Por que Beto Richa ficou de fora?

Em notas oficiais e em todas as entrevistas que deu após furacão das denúncias do envolvimento de servidores de confiança de seu governo com propinas e superfaturamento nas concessões rodoviárias do Paraná, Beto Richa tem repetido: ele não é investigado. E se vale até de declarações dos procuradores do Ministério Público Federal que dizem a mesma coisa: eles negam que o nome do governador tenha aparecido na Operação  Integração que apurou os supostos e graves malfeitos.

Será?

A explicação pode ser bem mais simples. O nome do governador não apareceu provavelmente por duas razões:

  • realmente, nada foi encontrado que pudesse implicá-lo e, nesse caso, ele pode mesmo festejar;
  • não apareceu porque a simples citação de alguma suspeita contra ele faria com que, imediatamente, o inquérito fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), instância superior que lhe é garantida pela prerrogativa que detêm os governadores de estado.

A segunda hipótese não pode ser descartada. O fato de as investigações passarem para o âmbito do STJ paralisaria o aprofundamento das investigações que ainda estão sendo procedidas pela força-tarefa de Curitiba e pela justiça de primeira instância, nas mãos do juiz Sergio Moro. Ou seja, os procedimentos sairiam das mãos do MPF local, o mais rápido e mais habilitado para dar continuidade às apurações, e tudo iria parar na zona conforto de Brasília.

E assim continuará até 7 de abril, data em que, quem sabe, contudo, todavia, Richa poderá se afastar do governo para se candidatar ao Senado e, sem foro privilegiado, se igualar a todos os demais citados no inquérito que explodiu quinta-feira (22).

Depois do dia 7, se contudo, porém, todavia, talvez Beto estiver fora do Palácio Iguaçu, tudo pode mudar.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Caro Celso. Sua avaliação é correta, a afirmação dos procuradores de que o Beto não é investigado se dá pela prerrogativa de foro, pois não compete a eles neste primeiro momento investigá-lo, porém, não quer dizer que o inocentaram. Foi assim com Sérgio Cabral quando era governador: a cada inquérito aberto contra agentes de seu governo, imediatamente ele se colocava em frente das câmeras dizendo que não coadunava com mal feitos de ninguém, que ele não era investigado, e que se confirmada a culpa dos envolvidos eles deveriam ser punidos exemplarmente. A mesma ladainha de sempre e seus clichês. Não se preocupam ao menos em inovar as desculpas, recorrem ao que parece estar em prateleiras prontas para a ocasião. O problema do Beto não é político ou seus adversários, mas sim, jurídico. Pesam sobre ele inúmeras denúncias de corrupção em várias áreas de seu governo, os acusados são seus indicados diretos, não foram indicados por partidos políticos. Assim sendo, fica cada dia mais difícil dissociá-lo dos crimes denunciados. A situação do Beto após a operação Integração se agravou muito juridicamente, o buraco agora é ainda mais em baixo, é Lava Jato, é Sérgio Moro, TJ, STJ, STF, MP, MPF, PF, GAECO, ou seja, não existe a menor hipótese de se prever de onde partirá o tiro fatal; parece-me, ao meu ver, ser somente questão de tempo. O Beto e seus áulicos não entenderam que o país estava mudando, insistiram, mesmo diante das evidências, em práticas da velha política. O caso dele me permite uma analogia com Eduardo Cunha; Eduardo era detentor de um poder imenso, o exercia na plenitude (Beto neste quesito é o oposto), parecia estar acima do bem e do mal quando denúncias recaiam sob ele, debochava, desdenhava, negava-as veementemente, e inúmeras vezes atacou frontalmente os denunciantes, a imprensa e as instituições, nada do que diziam era verdade ou tinham a ver com ele. Foi atropelado pelos fatos, foi afastado no exercício do cargo e do mandato, foi traído pelos companheiros, foi cassado, e doze dias depois preso por Sérgio Moro. Mesmo preso, há outros mandados de prisão preventiva advindos de outras praças em vários processos. As frentes jurídicas abertas por enquanto contra os integrantes do governo do Beto, indubitavelmente irão atingi-lo, mais rapidamente ainda se perder a prerrogativa do foro privilegiado. É triste e ruim para o estado, mas é o cenário que se desenha.

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