Pesquisa revela desafios e contradições na avaliação do governo Lula em 2025

A mais recente pesquisa do Instituto Opinião, realizada pelo telefone entre os dias 9 e 11 de abril de 2025, revela um retrato complexo e polarizado da percepção dos brasileiros em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) . Os dados apontam para um país dividido entre aprovação de políticas públicas pontuais e insatisfação com a condução geral da gestão federal.

De acordo com o levantamento, 27,8% dos entrevistados consideram o governo Lula “ótimo” ou “bom”, enquanto 29,8% classificam como “regular” e 42,1% avaliam como “ruim” ou “péssimo”. A rejeição é especialmente forte nas regiões Sul e Sudeste, onde mais de 44% dos entrevistados demonstram insatisfação com o governo. No Nordeste, tradicional reduto de apoio petista, os números estão mais equilibrados: 32,6% de aprovação contra 33,4% de reprovação.

“O cenário nacional revela um forte grau de polarização, com uma divisão clara entre regiões, faixas de renda, escolaridade e religião. O Nordeste ainda sustenta a base histórica de Lula, mas a rejeição cresce nas demais regiões”, analisa Arilton Freres, sociólogo e diretor do Instituto Opinião, de Curitiba.

Administração presidencial e imagem pública

A aprovação da forma como Lula administra o país segue o mesmo padrão de divisão: 44,6% aprovam, mas a maioria — 53,6% — desaprova. Regionalmente, o Nordeste novamente apresenta os melhores índices (54,7% de aprovação), contrastando com o Sul (38,7%) e Sudeste (39,4%).

Por perfil, os jovens de 16 a 24 anos (52,9%) e as mulheres (50,3%) tendem a aprovar a gestão. Já os homens (60,9%) e pessoas com renda acima de cinco salários mínimos (62,3%) são mais críticos.

“A rejeição entre os mais ricos e entre os evangélicos é muito significativa. Mas é preciso observar que o governo mantém apoio entre os mais jovens e os que ganham até dois salários mínimos. A questão de classe permanece central na percepção sobre Lula”, afirma Freres.

Quando o foco é a imagem pública do presidente, a avaliação negativa prevalece: 47,9% consideram sua imagem “mais negativa”, contra 30,5% que a veem de forma positiva. Novamente, o Nordeste é a exceção — com equilíbrio entre imagem positiva e negativa (39,5%). A percepção negativa é mais intensa entre homens (54,1%) e entre os mais escolarizados (52,7%).

“Existe um desgaste evidente da figura do presidente entre parcelas mais críticas e informadas da população, o que exige um esforço renovado de comunicação institucional”, avalia o sociólogo.

Comparação com o governo Bolsonaro

A pesquisa também investigou comparações com a gestão anterior. Para 41,5% dos entrevistados, o governo Lula está “pior” do que o de Jair Bolsonaro, enquanto 35,7% avaliam que está “melhor”. No Nordeste, 41,7% ainda consideram a gestão atual superior à anterior. Em todas as demais regiões, prevalece a impressão de que o governo piorou.

“Essa comparação direta com Bolsonaro é um termômetro importante. Ela mostra que Lula ainda não conseguiu consolidar uma percepção clara de mudança positiva, especialmente fora do Nordeste”, diz Freres.

Aprovação de medidas pontuais: a contradição popular

Apesar da avaliação geral negativa, medidas específicas do governo federal contam com aprovação expressiva. O programa Celular Seguro, que permite o bloqueio remoto de aparelhos roubados, foi aprovado por 80,3% dos entrevistados. A proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil teve 76,2% de aprovação.

Até mesmo o Crédito do Trabalhador, que oferece crédito consignado a trabalhadores com carteira assinada, embora mais dividido, conta com um terço de aprovação (33%) e baixo índice de rejeição firme.

A exceção é a chamada Lei da Reciprocidade, que propõe tarifas equivalentes às aplicadas pelos Estados Unidos. A medida tem rejeição de 41,5% e aprovação firme de apenas 35,7%.

“A pesquisa mostra uma população crítica ao governo, mas receptiva a medidas que impactam diretamente seu cotidiano. Existe um espaço claro para reconstrução da imagem presidencial a partir de políticas públicas bem comunicadas e com efeitos concretos”, pondera Freres.

Com margem de erro de dois pontos percentuais e 95% de nível de confiança, a pesquisa entrevistou 2.000 pessoas com mais de 16 anos, de todas as regiões do país. Os resultados apontam para um momento delicado para o governo Lula, com alta rejeição, mas também sinais de aprovação a ações pontuais.

“Se o governo quiser reverter esse cenário, terá que investir fortemente em comunicação, ampliar o diálogo com os setores mais críticos e mostrar resultados concretos. Ainda há tempo — mas é preciso ouvir o que a pesquisa está dizendo”, conclui Arilton Freres.

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