O que diria Luiz Gama?

Por Cláudio Henrique de Castro – No dia 24 de janeiro, houve o espancamento do congolês Moïse, de 24 anos, num quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Em 12 minutos foram trinta pauladas.

Qual o motivo?

A cobrança pela vítima, de duzentos reais, por dois dias de trabalho.

O que diria sobre tudo isso o abolicionista e advogado, Luiz Gama (1830-1882)?

Vejamos alguns trechos daobra do jurista:

Ao positivismo da macia escravidão eu anteponho o das revoluções da liberdade; quero ser louco como John Brown, como Spartacus, como Lincoln, como Jesus; detesto, porém, a calma farisaica de Pilatos.

Se algum dia […] os respeitáveis juízes do Brasil esquecidos do respeito que devem à lei, e dos imprescindíveis deveres que contraíram perante a moral e a nação, corrompidos pela venalidade ou pela ação deletéria do poder, abandonando a causa sacrossanta do direito, e, por uma inexplicável aberração, faltarem com a devida justiça aos infelizes que sofrem escravidão indébita, eu, por minha própria conta, sem impetrar o auxílio de pessoa alguma, e sob minha única responsabilidade, aconselharei e promoverei, não a insurreição, que é um crime, mas a “resistência”, que é uma virtude cívica.

Estou no começo: quando a justiça fechar as portas dos tribunais, quando a prudência apoderar-se do país, quando os nossos adversários ascenderem ao poder, quando da imprensa quebrarem-se os prelos, eu saberei ensinar aos desgraçados a vereda do desespero.

Basta de sermões; acabemos com os idílios.

Lembrem-se os evangelizadores do positivismo que nós NÃO ATACAMOS DIREITOS; PERSEGUIMOS O CRIME, por amor da salvação de infelizes; e recordem-se, na doce paz dos seus calmos gabinetes, que as alegrias do escravo são como a nuvem negra: no auge transformam-se em lágrimas. (1880 – 18 de dezembro – Luiz Gama).

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