(por Ruth Bolognese) – Mais simbólica e mais complexa do que a prisão do principal personagem da Operação Quadro Negro, Maurício Fanini, nesse sábado, foi a decisão do deputado estadual, Plauto Miró Guimarães. Ele contratou o advogado Figueiredo Basto, projetado pela experiência e conhecimento dessa nova modalidade brasileira na área jurídica, a delação, e disseminou uma onda de perplexidade no Centro Cívico.
Plauto Miró está no sétimo mandato como deputado estadual, desde sempre no DEM, e na terceira gestão como secretário da Assembleia Legislativa. Pertence a uma das famílias mais tradicionais e mais abastadas da política do Paraná, os Miró Guimarães, de Ponta Grossa. Da mesma geração de Beto Richa, tem 54 anos, sempre esteve no mesmo grupo político do governador. É um daqueles nomes que se perpetuam na política, pela solidez e tradição do nome e o vínculo duradouro com a terra de origem.
O sinal que o deputado Plauto acendeu ao contratar um advogado especialista em delação foi vermelho. O nome dele aparece 22 vezes na delação de Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor, como um dos deputados que receberam recursos da fraude montada na Fundepar – Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná. Mais de R$20 milhões desviados de reformas e construção de escolas para campanhas eleitorais, conforme as investigações do Ministério Público do Paraná.
Uma delação do porte de Plauto Miró Guimarães tem múltiplos significados e todos eles desembocam numa situação dramática para o governador Beto Richa e o núcleo do poder no Paraná. Seria a primeira admissão de crime de “um deles”, sem nenhuma chance de desqualificação da testemunha, a primeira e a mais comum de todas as defesas dos acusados. Confirmaria a organização criminosa onde o ranking das citações do delator começa com o nome do governador Beto Richa, 43 vezes, o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni,34 e o atual presidente da Assembleia, Ademar Traiano, 27.
Mas, sobretudo, seria um golpe fatal no governador Beto Richa que, a despeito de todas as acusações contra parentes, assessores muito próximos e integrantes do grupo político por desvios de dinheiro público, não sofreu ainda nenhuma punição direta ou efetiva.
O sinal vermelho está aceso. Se Plauto Miró Guimarães fez um movimento de alerta, ou se está disposto a tomar a atitude mais difícil de sua longa carreira, se verá nos próximos dias. Ainda é uma incógnita. Como diriam em conjunto todos os personagens que se tornaram conhecidos ,criticados, encarcerados, desprezados ou aplaudidos da outra Operação, a Lava Jato, “cada homem tem o seu próprio limite para permanecer calado”.