A revista Época desta semana traz longa entrevista com Gilmar Mendes, na qual o polêmico ministro do STF se diz vítima de perseguição e chantagem por parte procuradores do Ministério Público Federal e auditores da Receita Federal. Citou, como exemplo, o caso da investigação promovida a partir de Vitória (ES) que o coloca como suspeito de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e tráfico de influência como possíveis fraudes cometidas por ele e por sua mulher, a advogada Guiomar Feitosa.
As queixas de perseguição que Gilmar Mendes alega não demoraram a chegar ao Paraná. Mendes citou suposta afirmação do advogado curitibano Tracy Reinaldet – que o ministro disse representar a pedageira paranaense Triunfo – de que o procurador federal da Lava Jato de Curitiba, Diogo Castor, teria condicionado aceitar uma delação dos empresários da construtora se seu nome constasse da colaboração premiada.
Procurado em Curitiba, Reinaldet afirmou que não é advogado da Construtora Triunfo nem nunca ouviu qualquer exigência de membro do Ministério Público Federal para falar sobre pessoas ou fatos. Já o procurador Diogo Castor afirmou, por meio da assessoria de imprensa do MPF, que a força-tarefa “jamais condicionou a realização de acordos de colaboração premiada à menção de qualquer agente público, político ou privado, mas sim ao esclarecimento da verdade sobre fatos”.
Veja trecho da entrevista de Gilmar Mendes à Época:
Aproximava-se a hora do almoço e podia-se sentir o cheiro de comida boa fritando na panela. Mendes se ajeitou na cadeira como se fosse começar uma explanação em plenário. E passou a discorrer sobre o que considera o principal indicativo de que seria alvo de um processo de perseguição sem precedentes.
Uma semana antes, contou, fora procurado por seu sócio no IDP em São Paulo, Luiz Junqueira, que lhe revelou ter sido contatado por um advogado da empreiteira Triunfo, concessionária de pedágio no Paraná e uma das últimas a ser tragada pela espiral da Lava Jato. Mendes ficou sabendo que o advogado Tracy Reinaldet, que negociava a delação dos empresários da construtora, teria ouvido um pedido do procurador Diogo Castor, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Segundo o relato de Reinaldet ao advogado da Triunfo, Castor teria apresentado uma condição para o acordo de colaboração. “Ele exigiu que meu nome viesse na delação. O meu e o do desembargador Thompson Flores”, disse Mendes, referindo-se ao presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Dois dias depois, contou Mendes, ouviu a mesma história de um amigo de Brasília que é sócio de uma empresa de construção.
Mendes afirmou não conhecer os donos da Triunfo, lembrou apenas ter dado um habeas corpus para um deles, mas recordou detalhes sobre Castor, cujo nome afirma ter ouvido de “vários advogados”, que lhe teriam contado que as delações em Curitiba passam “direta ou indiretamente” pelo escritório do irmão do procurador, Rodrigo Castor. Em abril de 2018, muito tempo antes de saber do caso da Triunfo, Mendes já havia levantado suspeitas sobre Castor, o procurador, no plenário do STF.
Na quarta-feira de manhã, Mendes telefonou para ÉPOCA e contou que falara formalmente sobre o episódio com José Dias Toffoli e Raquel Dodge. Os dois teriam ficado perplexos. “A Raquel está acuada pelos apoiadores do Sergio Moro lá na PGR, coitada”, afirmou. À noite, a queixa foi formalmente apresentada por Mendes a Toffoli.
Em Curitiba, Diogo Castor afirmou, por meio da assessoria de imprensa do MPF, que a força-tarefa “jamais condicionou a realização de acordos de colaboração premiada à menção de qualquer agente público, político ou privado, mas sim ao esclarecimento da verdade sobre fatos”. “A suposta informação de que algum acordo teria sido condicionado à revelação de crimes do ministro Gilmar Mendes ou de qualquer outra pessoa se trata de mais um ataque infundado contra a Lava Jato e a sua difusão pelo referido ministro corrobora a falta da imparcialidade necessária para a sua atuação em investigações e processos relacionados à operação”, afirmou Castor em nota.
“Sobre a outra declaração (a respeito de delações passarem pelo escritório do irmão), não é algo novo. Isso já foi feito em 2017 e, no ano passado, durante uma sessão do STF, o ministro já tinha falado isso, sem provas”, completou. O advogado Tracy Reinaldet afirmou não ser advogado da Triunfo e tampouco ter ouvido do MPF a exigência de falar sobre determinado fato ou de determinada pessoa.
O Brasil precisa ser maior que esse tipo de elemento e mais, não pode ficar refém deste ou de outros de seu tipo. A boa solução seria prova de avaliação de capacidade técnica, não o que é feito no congresso, mas aos moldes dos concursos para a magistratura e acima de tudo ilibado passado profissional. Nem atraso de condomínio pode.