Diógenes Caetano dos Santos Filho, primo do garoto Evandro Ramos, que desapareceu em Guaratuba, no litoral do Paraná, em 1992, virou réu por calúnia contra cinco acusados que foram torturados para confessar o crime.
Na denúncia, a defesa dos cinco acusados afirma que Diógenes participou de uma transmissão ao vivo patrocinada por um grupo de comunicação, que foi ao ar em 25 de janeiro deste ano no Facebook.
Conforme o documento, Diógenes foi convidado pelo veículo para comentar o pedido de desculpas oficial feito pelo Governo do Paraná aos acusados do crime.
O estado definiu o perdão como “sevícias indesculpáveis” sofridas por eles à época da investigação do caso.
Veja, abaixo, um trecho da declaração de Diógenes na entrevista:
“Nós não vamos pactuar, a família se recusa. Nós sabemos que foram eles que mataram e não foi só o Evandro, não foi só o Leandro [Bossi], eles confessaram outras crianças. Eu não quero me alongar, mas só para encerrar essa primeira pergunta: todos aqueles desaparecimentos, aqueles 28 casos que estão sumidos, do final dos anos 80, início dos anos 90, eles são casos de sumiços fora da curva, são casos diferentes. Sempre existiu desaparecimentos e sempre existe, até hoje. Mas aqueles eram fora da curva, eles tinham características especiais e nenhuma delas foi encontrada”.
Em outro trecho, Diógenes afirmou ter considerado o pedido de desculpas do governo “vergonhoso”.
“Então, aquilo só acabou com a prisão deles. Em janeiro de 92 sumiu uma criança, em fevereiro sumiu duas e, em março, sumiram três. Em abril, sumiu o Evandro e depois nunca mais sumiu ninguém nessa característica que eu aponto fora da curva. Então, só isso aí, já é um motivo para ele [Secretário de Justiça Ney Leprevost] parar e pensar e não ficar fazendo essas conversinhas aí de pedir desculpas. Realmente isso é vergonhoso”.
Na queixa-crime, a defesa pontuou que Diógenes, ao sugerir afirmativamente que os acusados mataram Leandro Bossi e “mais aqueles 28 casos que estão sumidos”, atribuiu aos acusados os crimes de sequestro e homicídio.
“Nem se diga que Diógenes apenas sugeriu as imputações de modo apenas indireto, porque, quando mencionou os ’28 casos’, não se tratou de uma cifra especulativa hiperbólica. Os 28 casos são exatamente todas as crianças que estão desaparecidas sem desfecho ou descoberta no Estado do Paraná”, afirmou a defesa.
O outro lado
Diógenes Caetano dos Santos Filho afirmou que não tem interesse em ler a queixa-crime. “Aguardarei ser intimado e aí saberei do que os assassinos do Evandro e do Leandro estão alegando”, disse ele.
Atualmente, Diógenes atua como engenheiro civil em Guaratuba.
Os advogados Antonio Augusto Figueiredo Basto e Tomás Chinasso Kubrusly – que defendem Celina Abagge, Beatriz Abagge, Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Airton Bardelli – afirmaram apenas que “a queixa-crime é autoexplicativa”.
Um dos acusados, o pai de santo Osvaldo Marcineiro, disse que espera que “a justiça seja finalmente feita”.
“Queremos uma resposta, queremos justiça. Eu não posso de jeito nenhum e nunca vou fazer isso porque não é do meu feitio dizer que ele é culpado pela morte de qualquer criança, mas eu posso dizer certamente de uma coisa: o Diógenes é completamente culpado pelo caso Evandro. O caso Evandro nunca existiu como ele falou. Aquele dossiê de magia negra, de acusações que ele fez, enfim, o Diógenes é culpado por inventar tudo, criar essa história”. (Do G1/PR)