Mais de 60 ex-funcionários da filial brasileira da Volkswagen, afetados pela colaboração sistemática da empresa com a ditadura militar, serão indenizados e um acordo nesse sentido será assinado nesta quinta-feira (24) em São Paulo. Serão pagos cerca de R$ 36 milhões em indenizações, sendo que a maior parte irá para associações de vítimas formadas por ex-funcionários e seus familiares. É o que informam as emissoras alemãs NDR, SWR e jornal Sueddeutsche Zeitung. As reportagens foram reproduzidas pela Deutsche Welle (DW), emissora internacional da Alemanha.
A compensação está relacionada a uma ação movida há cinco anos contra a empresa, em nome de ex-empregados que trabalharam na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) entre 1964 e 1985. Com o acordo indenizatório, a companhia evita uma disputa judicial.
Em sua reportagem, o Süddeutsche Zeitung aponta que a decisão é “um sinal importante, justamente porque o presidente populista de direita Jair Bolsonaro já glorificou a ditadura militar da época”. “Para os trabalhadores da fábrica, significa uma justiça pela qual eles tiveram que esperar por décadas”, completou o jornal.
Em 2017, uma investigação realizada pelo Ministério Público Federal (MPF) confirmou que a montadora alemã colaborou de maneira sistemática e ativa com o regime. Através de espionagem de seus funcionários, a Volkswagen muniu o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de informações.
“A Volks teve um papel ativo. A montadora não foi obrigada a isso. Eles fizeram parte porque queriam”, escreveu Guaracy Mingardi, perito que assinou o relatório do MPF.
O documento revelou ainda que o departamento de segurança da montadora permitiu a prisão de funcionários dentro de suas fábricas, mesmo sem mandados. Após a detenção, funcionários que eram considerados opositores ao regime foram torturados durante meses.
O relatório do MPF também afirma que a montadora tinha interesses comerciais e visava usar o “maquinário repressivo do Estado” para impedir greves.
O documento não abordou quão profundo seria o conhecimento da sede da montadora, em Wolfsburg, na Alemanha, sobre as atividades da filial brasileira. Porém, uma análise extensa de documentações, realizada por Christopher Kopper, historiador contratado pela Volks para apurar a colaboração da empresa com a ditadura brasileira, sugeriu que a sede tomou conhecimento desses atos o mais tardar em 1979. Kopper, da Universidade de Bielefeld, elaborou um relatório independente sobre o caso.
“Será a primeira vez que uma companhia alemã aceita sua responsabilidade por violações de direitos humanos contra seus próprios funcionários por eventos que ocorreram após o fim do nacional-socialismo”, disse o historiador aos veículos alemães. (Informações da Deutsche Welle Brasil e do Congresso em Foco).