O país vai parar a partir de 14 horas desta quarta-feira para ouvir os longos, tediosos e quase incompreensíveis votos dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles vão decidir bem mais do que se aceitam ou rejeitam o habeas corpus em que Lula defende o direito de não ser preso antes que todos os recursos transitem em julgado na última e definitiva instância.
O STF, no fundo, vai dividir o país entre “nós” e “eles”, para usar o mesmo linguajar do PT. Seja qual for a decisão, contra ou a favor do ex-presidente, a reação da sociedade será a de vibrar em frequências opostas – um lado de regozijo, outro, de revolta.
O Supremo sabe que a opinião pública está dividida. Que há pressões políticas e, desde ontem, também do setor militar pela voz do comandante do Exército Brasileiro, general Villas Boas, que declarou “repúdio à impunidade” – um recado bem direto de quem espera que os ministros mantenham a jurisprudência segundo a qual condenados em segunda instância devem imediatamente cumprir a pena a que foram sentenciados.
Só faltou ao general aplicar aos ministros do STF as palavras do primeiro presidente da ditadura, o marechal Castello Branco (foto), que se referiu aos civis que apelaram aos militares nos idos de 1964 como “vivandeiras alvoroçadas, [que] vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar.”
A opinião de Villas Boas não é jurídica. É política e com certeza reflexo do sentimento crescente nos meios militares de que “algo precisa ser feito” para tirar o país da mão dos corruptos e das esquerdas representadas por Lula – mesmas razões que os fizeram sair dos quarteis há 54 anos para depor João Goulart.
O momento exige tranquilidade e, por mais que as instituições estejam “em frangalhos”, como mancheteou o Estadão quando da edição do AI-5, o melhor para o país é não cair na radicalização do “eles” contra “nós”.
Como o Supremo lidará com esse problema é o que se verá na tarde deste histórico 4 de abril.