Quadro Negro, a delação de Fanini e o Natal

É grande curiosidade em círculos do Palácio Iguaçu e da Assembleia Legislativa sobre o conteúdo da delação que o engenheiro Maurício Fanini entregou à Procuradoria Geral da República (PGR) já há dois meses. Só se tem certeza de uma coisa: Fanini sabia muito mais do que o dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, sobre como se davam desvios de dinheiro público, contabilizado como se fosse para o pagamento por obras não realizadas, e que tomavam o destino, segundo ele, da campanha de reeleição de Beto Richa e de alguns deputados.

Eduardo sabia de tudo o que dizia respeito à própria atuação na distribuição das propinas oriundas sete escolas que fingia construir – mas não sabia como o mesmo esquema se replicava em 18 outras escolas no Paraná, envolvendo outras 13 empreiteiras, tudo sob o controle do mesmo operador, Maurício Fanini. A bombástica deleção de Lopes já foi homologada e nela estão citados os nomes de Beto Richa, Valdir Rossoni, Ademar Traiano e Plauto Miró Guimarães.

A extensão da Operação Quadro Negro, que no início focalizava apenas as construções da Valor, tomou proporções maiores a partir do aprofundamento das investigações pelo Ministério Público.

Em outubro, o advogado Omar Geha, que atende Maurício Fanini, finalizou um cartapácio de revelações e incriminações e o entregou ao Ministério Público Federal. Até dez dias atrás, a PGR ainda examinava o teor da delação e já tinha obtido em Curitiba (dois agentes vieram de Brasília com este fim) um documento em que Fanini atestava o conteúdo e declarava não ter sofrido coerção para fazer a delação.

É mais do que provável que Fanini – interessado em obter benefícios ou até mesmo sair da prisão em que está confinado desde setembro – tenha descrito como se davam e quem eram os beneficiários das demais operações de desvio que se espalharam pelo Paraná. Não se sabe também até que ponto Fanini abriu o jogo sobre suposta participação ou conhecimento do governador Beto Richa. Só em Curitiba, há quatro construções de escolas que estão na lista de suspeitas de terem sido incluídas no esquema.

Mas não há, ainda, confirmação se o teor da delação já foi entregue ao ministro do STF, Luiz Fux, para homologação. Nem se o fará antes do recesso do Judiciário, que se inicia no próximo dia 20. A expectativa é grande e os tremores são intensos.

 

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