Vinte e cinco procuradores da República assinaram manifesto em que protestam contra a tentativa de afastamento do procurador Deltan Dallagnol da força-tarefa da Operação Lava Jato em processo que será julgado na terça-feira (18) pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
O documento afirma que “está em jogo a capacidade institucional de proteger promotores e procuradores que trabalham contra a grande corrupção estabelecida em diversas esferas de governo no Brasil” e que, no processo, estão presentes “narrativas surgidas em notícias sem amparo em provas, com nítida desproporcionalidade entre os fatos imputados e a possível sanção de remoção.”
Leia íntegra:
Os procuradores da República e procuradores Regionais da República abaixo assinados manifestam sua grande preocupação com o julgamento no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), marcado para a próxima terça-feira (18), de representações que buscam afastar Deltan Dallagnol da condução da investigação da Lava Jato no Paraná, mesmo sendo o seu procurador natural.
Vem tomando corpo forte movimento de reação aos avanços contra a corrupção visando a impedir ou macular investigações. Nesse sentido, as representações em julgamento no CNMP abordam várias questões arquivadas pela Corregedoria e narrativas surgidas em notícias sem amparo em provas, com nítida desproporcionalidade entre os fatos imputados e a possível sanção de remoção ex officio.
Ninguém deve ser punido pelo regular exercício das suas funções ou pelo legítimo exercício do direito à livre manifestação e expressão. Uma nação se constrói pela diferença de ideias, e a omissão não contribui para a democracia. No julgamento que se aproxima, Deltan Dallagnol poderá ser afastado da força-tarefa por se dedicar há anos ao combate à corrupção nos altos escalões da República e por expressar de forma firme suas ideias.
Na próxima semana, mais uma vez, o CNMP é chamado para se posicionar. O constrangimento que investigados buscam criar pela potencial responsabilização, sem fundamento, de membro do Ministério Público não deve se sobrepor ao papel essencial que o CNMP desempenha de assegurar a independência das instituições e dos agentes responsáveis por investigar e processar os crimes em defesa de toda a sociedade. Nesses momentos de pressões, é colocado à prova o estatuto constitucional das garantias conferidas aos membros do Ministério Público para que possam desempenhar sua função com isenção.
O debate subjacente ao julgamento não é, na verdade, sobre o procurador Deltan Dallagnol, mas sobre o futuro da Lava Jato, da causa anticorrupção e das garantias constitucionais da independência funcional e da inamovibilidade de membros do Ministério Público. O que está em jogo é a capacidade institucional de proteger promotores e procuradores que trabalham contra a grande corrupção estabelecida em diversas esferas de governo no Brasil. Permitir um ataque a um membro do Ministério Público no exercício legítimo e regular de suas atribuições é permitir o ataque à própria Instituição do Ministério Público.
Somos testemunhas da atuação correta, dedicada e corajosa do procurador Deltan Dallagnol, como coordenador desta força-tarefa, ao trabalho do Ministério Público na Lava Jato e à causa anticorrupção. Ele sempre externou compromisso com a lei e a ética em seu procedimento e atuação pública. Deltan Dallagnol foi e é parte essencial da equipe de procuradores que, sob sua liderança e junto com outras instituições, alcançou resultados inéditos na história do País, responsabilizando criminosos poderosos e recuperando mais de R$ 14 bilhões para os cofres públicos.
Caso o CNMP decida, com base nas representações em julgamento no dia 18 de agosto, pela remoção de ofício de Deltan Dallagnol, serão abalados o direito constitucional à livre manifestação e expressão, bem como as garantias da independência funcional e da inamovibilidade, que, diga-se, existem para a defesa da sociedade.
Afastados esses pilares da atuação do Ministério Público, estará comprometida a independência para responsabilizar pessoas influentes envolvidas em crimes. Nesse cenário, as condições para a continuidade dos trabalhos na força-tarefa com independência será inviabilizada.
Assinam o presente os procuradores da República que integram ou já integraram a força-tarefa da Lava Jato no Paraná e na Procuradoria Regional da República – 4ª Região.
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Adriano Augusto Silvestrin Guedes
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Alexandre Jabur
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Ana Luísa Chiodelli Von Mengden
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Andrey Borges de Mendonça
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Antônio Augusto Teixeira Diniz
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Antônio Carlos Welter
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Athayde Ribeiro Costa
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Carlos Augusto da Silva Cazarré
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Diogo Castor de Mattos
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Douglas Fischer
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Felipe D´Elia Camargo
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Isabel Cristina Groba Vieira
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Januário Paludo
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Jerusa Burman Viecili
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Joel Bogo
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Juliana de Azevedo Santa Rosa Câmara
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Júlio Carlos Motta Noronha
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Laura Tessler
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Luciana de Miguel Cardoso Bogo
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Luiz Felipe Hoffmann Sanzi
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Marcelo Ribeiro Oliveira
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Maria Emília Corrêa da Costa Dick
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Orlando Martello Junior
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Paulo Roberto Galvão
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Roberson Henrique Pozzobon
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O que a Procuradoria quer é acabar com esse corporativismo e dar mais transparência as ações desses “milionários”
A parcela da sociedade que é honesta deveria sair as ruas em defesa da Lava Jato contra o desmonte que estão tramando em Brasília. Cade o MBL, o Vem pra Rua, etc ?