“Pepe”, “Neco” e “Cabeleira”

(por Ruth Bolognese) – Já se falou muito que a imprensa brasileira trata os grandes chefes do tráfico pelos apelidos aparentemente inofensivos para quem promove violência, morte e crimes bárbaros: Marcinho VP, Fernandinho Beira Mar, Marcola e por aí vai. Na verdade, repete-se o tratamento pelos quais os bandidos ganharam fama e ficaram conhecidos.

Em outros tipos de crime e malfeitos não é diferente. Na decisão em que o juiz federal Paulo Sérgio Ribeiro, da 23.ª Vara Federal de Curitiba, três dos principais apontados pela delação do ex-diretor do DER, Nelson Leal Junior, seguem na mesma linha: são eles José Richa Filho, o “Pepe”, Aldair Petry, o “Neco” e Antonio Carlos Cabral de Queiroz, o “Cabeleira”. Pepe Richa era o secretário de Infra Estrutura e Logística durante o governo do irmão, e os outros dois eram funcionários do DER/Pr.

Pepe, Neco e Cabeleira mantinham comunicação telefônica praticamente diária, segundo os autos, com objetivo básico de obter recursos gerados pelas concessionárias de pedágio, através de aditivos contratuais e aumento das tarifas. Neco, inclusive tinha um armário dentro da própria secretaria de Infra Estrutura, para guardar parte do dinheiro da propina. Cabeleira recebia propina das concessionárias desde 1999 e a última remessa que recebeu foi bem recente, janeiro de 2018.

O delator Nelson Leal Junior aponta Pepe Richa como o principal responsável por todo o aparato estatal montado especificamente para buscar vantagens financeiras no setor de transportes. A diferença de uma quadrilha de traficantes para uma quadrilha estatal é que na estatal se mexe apenas com dinheiro público. E não há violência, tráfico de armas, nem mortes. Pode-se dizer que os autores do roubo são cidadãos de respeito e reconhecidos socialmente. E os apelidos também são inofensivos: Pepe, Neco e Cabeleira.

4 COMENTÁRIOS

  1. Apenas para constar, ‘Pepe’ nada mais é que ‘José’, em espanhol! Portanto, creio que a analogia foi…assim…vai que…
    Se houvesse algum Francisco seria Chico, Roberto poderia ser ‘Beto’!

  2. D. Ruth, me permita lembrar vossa senhoria que os contratos de Pedágio foram firmados pelo DER, mediante assinatura do Governador do Estado.

    Naquela época a CR Almeida, via inclusive Ricardo Beltrao de Almeida, possuía (ainda possui) tentáculos enormes no governo.

    Plauto Miró, sobrinho de Cecilio Almeida era deputado forte.

    Fernando Carli, cunhado de Plauto, era chefe da casa civil.

    Ricardo Beltrao de Almeida era presidente do Instituto Paraná Desenvolvimento.

    Luíz Alberto Küster, colega de turma de engenharia civil de Ricardo Beltrão de Almeida era o presidente do DER – vindo da secretaria de administração da prefeitura de Guarapuva na gestão de… Fernando Carli.

    Mais:

    Dentre os mandados cumpridos, as empresas de pedagio ECOVIA e ECOCATARATAS, de propriedade do Grupo CR Almeida.

    Maior credor do estado do Paraná, o Grupo CR Almeida e seus membros e partes relacionadas possuem bilhões de reais para receber do estado.

    Marcelo Almeida foi deputado-federal e Diretor Geral do DETRAN-PR. Foi coordenador geral da campanha de Ratinho Júnior à prefeitura.

    Ricardo Almeida foi um dos expoentes do governo Jaime Lerner, com amplo trânsito junto ao DER que na época preparava a privatização das estradas do Paraná. Ato contínuo foi coordenador da campanha de Beto Richa ao governo do Estado em 2002.

    Há quem diga que supostamente o Grupo CR Almeida, ECOVIA, ECOCATARATAS, Ricardo e outros estariam apoiando Ratinho Júnior na expectativa de que o Governo pague os precatórios ao invés de investir em saúde e educação.

    Temos aí uma possível situação que o MPF e o MP-PR precisam investigar e verificar qual a interface com a operação Lava-Jato.

    Não precisa ser muito criativo para desenhar isso aí né?

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