Previdência: parte do dinheiro do trabalhador ficará com o governo

A reforma da Previdência estabelece que cada trabalhador depositará todo mês em sua conta individual um percentual do seu salário. É a capitalização previdenciária. Mas, segundo o jornal Valor Econômico, uma parcela dos recursos poupados para a futura aposentadoria será apropriada pelo Tesouro Nacional sob a forma de um “empréstimo compulsório”. Será uma aplicação compulsória em títulos públicos.

O jornal diz que conversou com técnicos do governo federal que participaram diretamente da elaboração da proposta. Eles explicaram que se um trabalhador depositar R$ 100 reais em sua conta, R$ 70, por hipótese, irão para o Tesouro. Isso será considerado uma forma de empréstimo do trabalhador ao Tesouro. O trabalhador terá um crédito contra o Tesouro, que será devidamente contabilizado em uma conta individual. Porém, tudo ainda deverá ser fixado em lei.

Em tese, o trabalhador estará garantido, pois não correrá os riscos inerentes às aplicações em mercado. A remuneração dessa parcela da poupança será definida pela lei complementar que irá instituir e regulamentar o sistema de capitalização. É a este mecanismo que se dá o nome de conta nocional ou capitalização nocional.

Conta o Valor Econômico que a capitalização nocional não é uma jabuticaba. É um modelo criado na década de 1990 e foi adotado por vários países, como Suécia, Noruega, Itália e Polônia, quando fizeram suas reformas previdenciárias. São dois os objetivos do modelo. O primeiro é reduzir o risco da aplicação dos recursos do trabalhador, pois a poupança que ele está fazendo é para sua aposentadoria.

O segundo objetivo é ajudar o governo a bancar o custo de transição entre o atual sistema previdenciário de repartição simples para o sistema de capitalização. Atualmente, os trabalhadores que estão na ativa financiam as aposentadorias daqueles que estão aposentados. Com o novo sistema, cada trabalhador irá depositar, mensalmente, uma quantia em sua conta individual que poderá ser capitalizada também por contribuição patronal.

1 COMENTÁRIO

  1. Assim como já acontece com os valores capitalizados pelos Regimes Próprios de Previdência (de servidores) a aplicação de valores em títulos do Tesouro terá o efeito imediato de aumentar a dívida pública interna. Esse é um fato que está sendo omitido no debate. Os segurados não terão nenhuma influência na forma ou mecanismos que definirão onde os recursos serão aplicados. No longo prazo, o mecanismo é pernicioso. Há formulas mais sustentáveis, desde que se estabeleçam regras de fomento ao microcrédito, autorizando-se que os recursos previdenciários possam ser emprestados aos próprios segurados ativos, nas mesmas condições e garantias do crédito consignado, estabelecendo-se limites percentuais tanto em relação ao padrão remuneratório do servidor quanto em relação ao patrimônio do próprio fundo, contribuindo de forma efetiva para o alcance da rentabilidade almejado no plano atuarial. Mas isso não interessa ao “mercado”, que precificou a reforma, conforme confessa o Ministro da Economia. O debate do tema exclusivamente sob o ângulo “fiscal” é um equivoco que apresentará sua fatura em 5 ou 6 anos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui