Parlamentar que troca apoio por cargo deveria ser preso, diz Oriovisto

(por Guilherme Voitch, correspondente de Veja no Paraná) – Empresário do ramo da educação, fundador e dono do Grupo Positivo, Oriovisto Guimarães (Podemos), 73 anos, fez sua estreia na política recebendo 29% dos votos válidos na eleição para o Senado. Terminou na primeira colocação, à frente de Flavio Arns (REDE), deixando sem mandato dois pesos pesados da política paranaense, o senador Roberto Requião (MDB) e o ex-governador Beto Richa (PSDB).

No Senado, Guimarães promete ser um defensor da Operação Lava Jato, com foco no combate à corrupção. Diz que irá votar em Jair Bolsonaro (PSL) mas promete independência em relação ao novo presidente. “Quem pede cargo para apoiar um presidente deveria ser preso”.

O senhor concorreu ao Senado contra dois ex-governadores, políticos tradicionais do estado. Por que acha que os eleitores elegeram o senhor?

Eu era conhecido como empresário aqui no Paraná, como reitor da Universidade Positivo e presidente do Grupo Positivo. Mas sempre li muito e me interessei muito sobre política. E eu fiz um diagnóstico da situação. Parecia claro que havia um divórcio entre a classe política, o que ela fazia, e o dia a dia da população. Um dos pontos que mais me chamavam a atenção dizia respeito à Operação Lava Jato, o que ela significou para o Brasil, que revelou esse outro lado da Lua, esse conluio entre empresários corruptos e políticos igualmente corruptos. Eu achava impressionante que os parlamentares não tinham atitude coerente com isso. As 10 Medidas Contra a Corrupção, por exemplo, que foi um projeto que mobilizou a sociedade, com milhões de assinaturas. Aí no Senado foram lá e fizeram uma Lei de Abuso contra a autoridade. O senador Roberto Requião (MDB) era um dos relatores, inclusive, e fizeram uma lei que era exatamente o oposto do que a sociedade estava pedindo. Então a partir desse fato cristalizou na minha cabeça um divórcio total. Não se tratava de ideologia, ou de esquerda e direita, e sim de não desviar dinheiro público. É questão de ser honesto. Desviar dinheiro público é condenável, seja em governo de direita ou de esquerda. Então peguei muito nesse ponto. Senti que havia vontade da sociedade em renovar e ter outro tipo de Parlamento. Bati muito nisso e acho que fui bem entendido pela população. Em trinta dias saí de 1% para 29%. Naquelas primeiras pesquisas em que eu aparecia com 1% eu via e pensava “Meu Deus, nunca vou chegar lá”. De qualquer forma eu queria plantar uma semente. Se não fosse eleito eu queria usar o tempo na televisão para plantar algumas ideias. Deu certo.

O senhor será um defensor da Operação Lava Jato?

Esse é o ponto número um da minha atuação no Senado. Não consigo conceber uma família, empresa ou país que possa dar certo onde existam pessoas que mentem e que roubam. Isso desmonta qualquer partido, qualquer organização social. Isso é fundamental, mas temos de prestar atenção no desperdício derivado da má gestão, de privilégios. A má gestão inclusive é mais difícil de ser combatida que a corrupção. A corrupção você pode contar com o Ministério Público Federal, Polícia Federal, entre outros.

E para além do combate à corrupção?

Primeiro quero lastimar um pouco que na nossa campanha presidencial os reais problemas brasileiros não estão sendo discutidos. Nós estamos assistindo muito uma guerra um pouco ideológica entre direita e esquerda e nenhum lado está apresentando soluções para os problemas que temos. As grandes reformas, a reforma da previdência. Entendo que seja difícil tratar disso no programa eleitoral mas pode se tratar disso em entrevistas para a televisão, por exemplo. Mas ninguém está tratando disso. O que está sendo tratado são acusações de lado a lado. É fascista. É comunista. É aquela brincadeira. Se você quer brigar com alguém por política, brigue até domingo. Na segunda-feira acaba tudo e precisamos começar a pensar no país. Esse país precisa voltar a crescer e precisamos fazer as reformas necessárias. Precisamos da reforma do estado. Quais são realmente necessárias. Há um trabalho muito sério a ser feito. Eu acredito que as coisas se esgotam. Nós temos um encontro marcado com a verdade. Teremos de pensar o país em profundidade. Temos de fazer uma nova receita de país.

Muitos políticos do Podemos estão apoiando a candidatura de Jair Bolsonaro. Qual sua posição sobre a candidatura dele?

Não é o candidato dos meus sonhos. No primeiro turno eu estava com o Alvaro Dias. Mas agora ele não conseguiu sucesso. Temos de entender que é um novo momento. Entregar novamente para o PT depois de tudo que o fizeram? Isso não passa pela minha cabeça. Não votarei no PT.

E se o Bolsonaro sair vencedor, como indicam as pesquisas, qual posição o senhor vai seguir no Senado?

Pessoalmente te digo minha posição. Tem uma coisa que está esquecida no país que é a independência dos Poderes. Ninguém tem poder absoluto. Em uma ditadura o Poder Executivo consegue cooptar o Legislativo. Esse é o primeiro passo. O segundo passo é corromper o Poder Judiciário. Então quando acaba a independência dos Poderes acaba a democracia. Precisamos de independência dos três Poderes. O Legislativo precisa ser poder independente, que apoie, mas que se oponha quando entender que é necessário. Sou advogado dessa independência. Aliás, pra mim, quando um parlamentar chega para o presidente e diz “olha, pra votar com você eu quero a diretoria financeira dos Correios, da Petrobras”, ele deveria ser preso. Por que ele quer uma diretoria dessa? Por que quer cargo? Para fazer política partidária e fundo para campanha, para fazer corrupção. Quando ocorre essa cooptação, acaba a independência.

O senhor apoiou a candidatura de Ratinho Junior. O que espera dele?

Eu já o conhecia. Tinha um convívio mais superficial. Tive a oportunidade de conviver com ele e para mim foi uma agradabilíssima surpresa. Na campanha eu aprendi a respeitar o Carlos Massa Júnior. Acho que ele está com propósitos relevantes. Ele está preparado e acho que estudou muito. Tem um discurso que bate com minhas ideias. Fala em enxugar a máquina e reduzir privilégios. Aliás, minha postura será a seguinte. Vou aceitar o salário, embora eu não precise, mas preciso ser igual aos demais e fazer valer esse salário. Mas privilégio eu não aceitarei nenhum. Auxílio-saúde, moradia, nada disso. Serei lutador para que Congresso Nacional acabe com isso. Isso é marco civilizatório.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui