Otávio Frias Filho e o jornalismo como mal necessário

(por Ruth Bolognese) – Diretor de Redação de um dos mais respeitados jornais do país, Otávio Frias Filho, que morreu ontem aos 61 anos, tinha uma visão realista do jornalismo. Em tempos atuais, quando a comunicação se dispersou pela grande Rede, e confunde até os mais experts, Frias se manteve fiel ao ofício, sem subterfúgios nem ilusões.

“O jornalismo – escreveu – apesar de suas severas limitações, é uma forma legítima de conhecimento sobre o nível mais imediato da realidade. Para afirmar sua autonomia, precisa cultivar valores, métodos e regras próprios”.

Por essa premissa, transformou a “Folha de São Paulo” num marco da diversidade de opiniões, o que valorizou o jornal e o deixou fora das grandes ingerências políticas que atingiram outros órgãos de imprensa e os enfraqueceram, como o rival paulista, “O Estado de São Paulo”.

Por essa premissa, também, continua referência na credibilidade que deve ter qualquer órgão de comunicação, mesmo num turbilhão de contradições que compõem uma realidade como a nossa. Fazer jornal é lidar com isso todos os dias: com acertos e erros permanentes e a necessária correção, mesmo que tardia. Mesmo com responsabilidade e apuração cotidiana, trata-se de uma ciência da superficialidade, gerada na pressa e no imediatismo. Mas condição absoluta na garantia de direitos e da democracia.

Otávio Frias Filho tinha pleno conhecimento do custo da independência para uma empresa jornalística que decide levá-la a sério. E deixa como legado a sobrevivência da “Folha”, por si só uma grande vitória no Brasil de hoje.

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