Passado o terremoto da última quinta-feira (22), quando foi lançada com estardalhaço a Operação Integração, chega a hora de meditar sobre águas mais calmas. E constatar que, nestes 20 anos de implantação do pedágio no Paraná
- políticos de todos os naipes bailaram nas críticas ao modelo de concessões vigente no Paraná em busca de votos para suas próprias eleições. Exploravam, desde o “baixa ou acaba” que elegeu Roberto Requião governador em 2002, o sentimento popular de que as tarifas eram “um roubo”;
- deputados montaram CPIs para usar a mídia com o objetivo evidente de posarem de arautos de uma causa que lhes renderia prestígio e votos;
- nas sombras, porém, certamente procuravam ou aceitavam doações eleitorais das mesmas pedageiras que criticavam em público, como demonstram os relatórios do Tribunal Superior Eleitoral: quase todos e todos os partidos têm lá registros de verbas em caixa 1 que pediram ou que lhes foram ofertadas pelas empreiteiras. Sem falar do que receberam em caixa 2. Seriam inocentes estes políticos? Até onde ia a sinceridade dos seus discursos?
- por outro lado, nas centenas de ações judiciais que se moveram, reciprocamente, o governo e os consórcios, o Ministério Público Federal sempre se posicionou a favor das concessionárias e a Justiça Federal invariavelmente lhes deu ganho de causa.
- Foram necessárias duas décadas para que o MPF mudasse de opinião? E só agora tenha descoberto irregularidades nos contratos de concessão? Só agora descobre que servidores públicos supostamente davam vantagens às concessionárias em troca – como acusam os procuradores – de generosos jabaculês? Vinte anos depois?
- E o poder concedente, isto é, o governo estadual, também permaneceu cego durante todo esse tempo em relação aos malfeitos de seus agentes? Nada via, nada percebia?
Não, não se dá defendendo aqui as concessionárias nem o modelo paranaense que resultou nas intragáveis tarifas de pedágio vigentes. Mas simplesmente dizendo que a Operação Integração serve para abrir os olhos e se lançar a vista para o retrovisor. Não há inocentes ou ingênuos nesse negócio. Se há corrupção nas pedageiras é porque elas encontram “terreno fértil” do outro lado do balcão.
A coisa toda já foi montada para ser uma maquina de fabricar Caixa 2.
A própria forma de calculo dos reajustes anuais é uma piada, e as empresas pedageiras podiam pagar quanto quisessem e a quem bem entendessem, sem controle nenhum, até prova em contrário.
Só não viu quem não quis.
É shakespereano.: “há algo de podre na República dr Curitiba”.