Você está dirigindo por uma rodovia num trecho que permite andar a 110 km/h. À beira da estrada, tem um outdoor. No décimo de segundo de sua passagem pela lateral da placa, você nota que ela contém um texto longo, com letrinhas miúdas. Ainda que sinta curiosidade saber o que está escrito nela, é claro que a pressa e o perigo de estacionar não lhe deixam cometer a imprudência.
Quando você se deparar com uma placa destas, de oito metros quadrados, saiba que ela representa o cumprimento de uma das condições impostas pelo Ministério Público Federal para aceitar a acordo de leniência com a concessionária Rodonorte – a pedageira que explora o trecho Curitiba-Londrina do Anel de Integração.
Pelo acordo, além de reduzir a tarifa em 30% e, assim, renunciar ao ganho de R$ 350 milhões que teria de agora até o fim do contrato de concessão em 2021, a empreiteira ficou de devolver outros R$ 350 milhões do que tirou ilicitamente dos paranaenses (tirou muito mais, claro!) nos últimos anos 20 anos de contrato.
A placa contém um elogio da empresa à Lava Jato, o reconhecimento de que foi corrupta, a promessa de não repetir malfeitos nunca mais e um pedido de desculpas à população – o suficiente para que a Rodonorte limpe a própria ficha e se mantenha apta a continuar fazendo negócios com o governo.
O Contraponto facilita a vida dos motoristas, que podem ler aqui o que diz o outdoor inútil da beira da estrada:
“A Rodonorte dirige-se aos paranaenses para reconhecer que errou ao não adotar políticas adequadas de transparência e controle de seus negócios, pelo que pede desculpas.
Por isso, a empresa formalizou acordo com a força tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal no Paraná, em que admitiu práticas de corrupção.
A concessionária se comprometeu a reparar a sociedade paranaense pagando uma multa que será revertida na redução em 30% da tarifa de pedágio, por pelo menos 12 meses, além de outras compensações.
A empresa entende que os fatos que geraram o acordo refletem um período que o Brasil e a Rodonorte querem deixar para trás e reforça o compro misso de aperfeiçoar seus mecanismos de controle e fiscalização.”
Lamentável observar a personificação da Instituição Ministerial.