O depoimento de Fernanda Richa diante do MP

(por Ruth Bolognese) – Sem nenhuma joia, nem mesmo a aliança de casamento, a maquilagem natural e apenas uma echarpe num tom quase dramático de azul, foram elementos que marcaram o longo depoimento de dona Fernanda Richa diante dos investigadores do Ministério Público.

Divulgado integralmente via Gazeta do Povo, mostrou uma mulher contida e, ao mesmo tempo, preparada na obstinação de mostrar que nada tem a ver com as acusações de lavagem de dinheiro que pesam sobre ela. A Operação “Rádio Patrulha” também prendeu seu marido, o ex-governador Beto Richa e um grupo de assessores e empresários.

Dona Fernanda foi altiva e quase desafiadora diante das perguntas sobre a gestão das duas empresas da família, a BFMAR (Beto,Fernanda, Marcello, André e Rodrigo) e a Ocaporã Empreendimentos, que reúne propriedades e investimentos dos Richa. E soube percorrer a linha tênue entre jogar a responsabilidade de todos os atos administrativos sobre as costas do contador com quem trabalha há mais de 30 anos, Dirceu Pupo Ferreira sem, contudo, culpá-lo de malfeitos. – “Vocês nunca vão entender o relacionamento que tenho com o Dirceu”, disse a certa altura. – “É quase de pai e filha”.

Contida sempre, dona Fernanda só deixou transparecer o quanto foi afetada pela prisão quando a descreveu: “Fui direto para a Colônia Penal, fiz a vistoria de praxe, vesti o agasalho e passei 4h30m numa cela comum”. Aí a voz embargou. E apenas uma vez foi a Fernanda de Andrade Vieira Richa, filha do banqueiro Thomas Edison Vieira, presidente do Bamerindus, morto em 1983 e de quem recebeu herança suficiente “até para os netos viverem com tranquilidade”.

Ao ser questionada sobre a compra de jóias, disse com um meio sorriso: “gosto de jóias, tenho muito, muito, juntando com as que recebi de minha mãe. E compro muito, até pela Internet”.

Dona Fernanda Richa negou praticamente tudo em termos de informações detalhadas sobre os negócios imobiliários das duas empresas familiares, ao repetir sempre a mesma resposta “eu não sei: isso vocês devem perguntar ao Dirceu”. Mas deixou claríssimo que tem controle absoluto sobre as empresas naquilo que realmente interessa: “empresas devem dar lucro. Se havia um bom negócio, o Dirceu tinha total autonomia para realizá-lo”.

Os investigadores queriam saber de duas transações imobiliárias entre as empresas BFMAR e Ocaporã Administradora de Bens Ltda, apontadas pelo empresário e lobista Tony Garcia como provas de que dona Fernanda fez lavagem de dinheiro público, envolvendo terrenos num condomínio de Santa Felicidade e salas comerciais. “Só o Dirceu pode esclarecer isso, mas todas as transações em dinheiro foram feitas através de operações bancárias. Não acredito nisso, de que o Dirceu tenha recebido retorno em dinheiro vivo”, garantiu.

Ao depor diante do Ministério Público, dona Fernanda Richa foi protagonista de dois fatos inéditos em toda a história das primeiras-damas do Paraná: a prisão e a suspeição de ter realizado negócios ilícitos enquanto atuou nos dois governos do marido. Pode-se dizer que honrou a classe e a distinção de todas as outras que a antecederam. E, mais uma vez, nos tempos que correm, foi exemplo de que ninguém está acima da lei: nem a mulher do governador e maior herdeira do Paraná.

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