O mais recente livro do jornalista e escritor Nilson Monteiro, “Retalhos na Pandemia”, uma edição da Banquinho Publicações, traz textos, sem ordem cronológica (crônicas e poemas), escritos desde março de 2020, quando o mundo começou a viver os dias angustiantes e conflitantes da pandemia mais letal da História, uma tormenta ainda sem fim. Segundo o autor, mistura ficção (ou tentativa de) com jornalismo, quem sabe uma subliteratura ou literatura desses tempos tortos e tormentosos.
Essa coletânea sucede ao livro de poemas “Nem tão Simples”, lançado pelo autor em 2020. “Retalhos na Pandemia” é uma colcha de textos, um patchwork, como o definiu a prefaciadora Etel Frota, poeta, letrista, roteirista e romancista. As crônicas e poemas passeiam por cidades, pessoas, sentimentos, amigos e inimigos do dia a dia e da humanidade. Aborda, de acordo com Monteiro, “o vírus maldito e suas filiais a erodir planos e o próximo calendário, a deixar nas bocas o gosto de fel da desesperança, com nossos doces sonhos balançando em retrovisores”.
“Retalhos” traz fotos fantásticas de Daniel Castellano e a programação de arte de Celso Arimatéia.
Não haverá lançamento presencial da obra. O livro será vendido oapenas de forma virtual (Facebook, Instagram e Whatsapp) e entregue ao comprador em sua casa, via Correios. Preç: R$ 50,00 (incluídos os custos com os Correios).
“Este livro é uma brochura de letras alinhavadas desde março de 2020, quando passamos a viver essa tormenta ainda sem fim. Junta crônicas e poemas escritos desde então (há outro escrito antes), sem ordem cronológica. Mistura ficção (ou tentativa de) com jornalismo, quem sabe uma subliteratura ou literatura desses tempos tortos e tormentosos.
Difícil enterrar nossos milhares e milhares de mortos, suportar o mal em diversas formas (inclusive fantasiado de ignorância e preconceitos), bem como ter que se afastar, para o bem de todos, de eventos comezinhos, como sair às ruas à toa com o periscópio em busca de melhores ângulos, dividir o assento de bancos no ônibus ou onde quer que seja, frequentar escolas, igrejas, estádios ou botecos, ir a velórios e beber os falecidos, puxar assuntos banais com pessoas no mercado da esquina, falar mal do vizinho, visitar parentes e amigos, ir aqui e ali sem rumo, queimar a língua com café mal assoprado nos balcões das cafeterias ou das padarias, viajar etc. e, sobretudo, difícil escrever.
Difícil escrever.
O vírus maldito e suas filiais a erodir planos e o próximo calendário, a deixar nas bocas o gosto de fel da desesperança, com nossos doces sonhos balançando em retrovisores.
É um drama incontido, que teve início no mistério chinês e se espalhou pelo mundo feito rastilho de pólvora incendiado pelo comportamento humano.
Mas, “o coração do homem vive sempre no limite do sonho”, escreveu o padre Paul-Eugène Charbonneau em outros tempos dramáticos.
Por isso, esses Retalhos. Com apresentação de afeto artesanal da poeta Etel Frota, que debulha letra por letra do formato do todo e tira suas cascas, com moldura da arte das lentes de Daniel Castellano e com programação visual de Celso Arimateia.
Viver é preciso. Se acompanhado dos vocábulos, melhor. Também por isso, esses Retalhos.
It’s a long road, cantou Caetano.
“A humanidade é um projeto que não deu certo”, afirma a professora universitária Lia Tiemi Oikawa Zangirolani.
Talvez tenha razão.
Prefiro acreditar na frase de Vanessa Coan, que fecha este livro e nos alimenta o fogo, o fôlego e a alma”.
O autor