Nervosismo domina o Centro Cívico

A governadora Cida Borghetti não quer marcar sua curta gestão como administradora do espólio tenebroso deixado por Beto Richa e quer agir com rapidez para manter limpos os números do seu RG e do CPF de qualquer insinuação de que age como zeladora dos armários onde ainda se escondem alguns esqueletos da administração anterior.

Compreende mas, mas diante da realidade que encontrou, já não concorda inteiramente com os esforços de seu marido, deputado Ricardo Barros, para cumprir integralmente os compromissos firmados com Beto e que permitiram a assunção da esposa ao governo do estado – estratégia fundamental para viabilizar a candidatura dela à reeleição. Dentre os compromissos estava a manutenção de alguns amigos do ex-governador em postos-chave da administração.

O desenrolar de alguns acontecimentos preocupantes dos últimos dias tem forçado Cida Borghetti a uma nova compreensão quanto ao cumprimento dos acordos. O principal deles diz respeito às movimentações do juiz Sergio Moro, do Ministério Público Federal e até mesmo da justiça estadual (9.ª Vara Criminal de Curitiba) visando a acelerar processos.

A revelação da gravação comprometedora do diálogo entre o ex-chefe de Gabinete de Richa, Deonilson Roldo, com um empreiteiro, visando supostamente a fraudar a licitação da PR-323, é um desses casos. A informação que corre nos bastidores é que já foi concluída a perícia da gravação e, tendo concluído pela autenticidade do diálogo, as providências cabíveis estariam prestes a acontecer.

Preventivamente, Cida já demitiu Deonilson de uma diretoria da Copel e o destituiu de outros cinco postos de conselheiro em estatais.

Tentou demitir Ezequias Moreira, secretário do Cerimonial, mas em nome de uma tentativa de manter a paz com o grupo Beto Richa, acabou recuando. Mas talvez nem tanto, pois, sintomaticamente, Ezequias foi aconselhado a entrar em gozo de férias. O gato teria subido ao telhado pela sétima vez e já não teria mais volta, dizem fontes palacianas.

Mais preocupantes são as previsões para os próximos dias. A delação de Maurício Fanini – arquiteto dos desvios que provocaram a abertura da Operação Quadro Negro – já foi homologada pelo ministro Luiz Fux (STF) e agora “desce” para a primeira instância e, com ela, os outros agentes públicos citados no inquérito e na própria delação. Dentre eles o ex-governador Beto Richa, o deputado federal Valdir Rossoni, e os estaduais Ademar Traiano, Plauto Miró Guimarães e Thiago Amaral.

O clima de pânico se estende para vários outros casos que implicam o governo anterior, como o da Operação Integração (que investiga relações incestuosas com a concessionária de pedágio Econorte, recheadas pela delação do ex-diretor do DER Nelson Leal Jr. em fase final de negociação). Mencionam-se ainda os casos da Operação Superagui (Eixo Modal de Paranaguá) e da permissão para a instalação de uma estrutura logística em Quatro Barras, ambos envolvendo licenças ambientais irregulares e sob suspeita de fraude.

São fatos comprometedores e com desdobramentos que podem atingir muitos remanescentes do governo anterior. Cida Borghetti, apesar da resistência do marido, quer ficar muito longe de tudo isso.