Mesquita revela o mistério da casa que alugou

O mistério da casa de luxo alugada pela secretaria da Segurança Pública num condomínio fechado afastado do centro de Curitiba foi, afinal, desvendado por quem o criou – o ex-secretário Wagner Mesquita, que firmou o contrato de locação por R$ 5 mil mensais em dezembro de 2015.

Numa longa carta que enviou ao Contraponto, Mesquita confirma que, de fato, tudo foi feito para que “a existência e as atividades realizadas em tal local realmente não deveriam ser de conhecimento de pessoas não afetas ao serviço, ainda que policiais” – ou seja, tratava-se de um lugar onde tudo deveria ocorrer em segredo.

Segundo ele, na casa se realizavam “atividades de pesquisa e análise de inteligência policial” e que a escolha do local se deu “por motivos de segurança orgânica dos agentes envolvidos, sigilo e confidencialidade das informações”.

Eis a carta do ex-secretário Wagner Mesquita:

Em atenção às informações publicadas por este site com os títulos “A misteriosa casa de luxo alugada pela Segurança” e “O que a Segurança fazia na casa misteriosa?”, na qualidade de ex-Secretário de Segurança Pública do Estado do Paraná venho esclarecer que:

1. A contratação de um imóvel em condomínio fechado para a realização de atividades de pesquisa e análise de inteligência policial, através do DIEP, para assessoramento da SESP deu-se por motivos de segurança orgânica dos agentes envolvidos, sigilo e confidencialidade das informações e das atividades ali desenvolvidas, em regime ininterrupto 24 horas, e com controle total de acesso;

2. A utilização de imóvel em local público exigiria contratação de vigilantes ou aplicação de policiais em regime de plantão, o que oneraria os cofres públicos, e fragilizaria a segurança e a confidencialidade do efetivo policial, das atividades e das informações tratadas pela equipe de inteligência;

3. O uso de imóveis específicos para basear atividades de pesquisa em inteligência, análise de informações e orientação para tomada de decisões operacionais é uma pratica legal e usual em órgãos policiais nas esferas estadual e federal, bem como nos órgãos típicos de inteligência dentro e fora do Brasil, e tem acatamento nos normativos gerais que regem a atividade de inteligência no país, bem como suas particularidades;

4. Em relação às formalização do contrato, foram tomadas todas as medidas administrativas previstas para tal, mediante documentação completa e trâmites normais, seguidos os requisitos legais e procedimentos usuais em aplicação na SESP, em nada diferindo em relação a qualquer outro imóvel;

5. Já o conhecimento das atividades exercidas no local, bem como o acesso ao imóvel, eram de natureza confidencial e restrita, reservada ao Diretor do DIEP, Diretor Geral da SESP e alguns poucos policiais (civis, militares e federais) e servidores técnicos que exerciam atividades na unidade, todos lotados no DIEP ou no Gabinete da SESP. Somente policiais e servidores da SESP tiveram acesso ao imóvel, conforme controle na portaria do condomínio. A existência e as atividades realizadas em tal local realmente não deveriam ser de conhecimento de pessoas não afetas ao serviço, ainda que policiais;
6. A atividade de pesquisa e inteligência operacional não guarda relação alguma com a atividade efetuada pela CAPE/SESP, que trabalha com cálculos e gráficos estatísticos visando orientar a política de Segurança Pública. Na atividade de pesquisa e inteligência operacional são coletadas e analisadas informações objetivas em situações pontuais tais como rebeliões em presídios, atuação de organizações criminosas e facções, auxílio técnico em investigações, etc. Além disso, eram coletadas e analisadas informações específicas de cunho operacional, em momentos críticos para a Segurança Pública;

7. Não houve aquisição de mobiliário pois o imóvel já apresentava boa infraestrutura, foram utilizados mobiliário de expediente e equipamentos de informática disponíveis no DIEP, em caráter temporário. Os contratos de fornecimento de serviços seguiram os procedimentos de praxe;

8. A atividade de inteligência em Segurança Pública realmente ainda é uma novidade, às vezes incompreendida, principalmente em relação a Secretaria de Segurança Pública, historicamente ligada somente a atividades administrativas. Ações dinâmicas e modernas, com utilização de dados de inteligência pontuais e ações estratégicas de alto nível, com equipe técnica reduzida, reservada e qualificada, mediante resposta rápida e constante, mostraram-se determinantes para os bons resultados estatísticos obtidos – redução de todas as modalidades de índices criminais (homicídios e crimes patrimoniais), recordes de apreensão de drogas e armas, apoio e desencadeamento de dezenas de operações policiais – inclusive pelo DIEP, redução expressiva na atuação do crime organizado no Estado – diminuição de rebeliões em presídios, explosões e ataques a caixas bancários, controle de grandes eventos públicos, resolução imediata de crimes graves, etc.

9. Quaisquer esclarecimentos complementares estão à disposição dos órgãos de controle competentes – TCE e Ministério Público – que já receberam informações específicas. Quanto à divulgação pública desses fatos neste momento, não há prejuízo algum visto que as atividades desenvolvidas neste imóvel já estão encerradas.

WAGNER MESQUITA DE OLIVEIRA

10 COMENTÁRIOS

  1. Se fosse pra ser sigiloso e segurança, nada melhor que a Ilha das Cobras em Paranaguá não?

    Realmente, que estratégia inteligente. ABIN, CIA, MI6 deveriam adotar essas boas práticas!!!!!!!!!!!!!!!!!

  2. E faziam na hora do expediente!
    Bem esquisito
    Podia alugar uma casa no sítio cercado por seiscentos reais, movimentava a economia local e economizava o errário.
    Essa história está toda turva.
    Pq o contrato não foi encerrado, já que o senhor brigou com a polícia e se foi embora? Aliás, esse inteligência era algum tipo de espionagem , por exemplo, a respeito da vida dos militares e civis que lhe deviam obediência e se revelaram instaisfeitos com a sua gestão? Sabia que com cinco mil o senhor poderia alugar um carro para o IML para fazer plantao no litoral e assim não deixar a capital sem veículo para remover pessoas falecidas como o menino que aguardou por 12 horas na rua? O senhor chegou a se desculpar com a mãe do menino? O Estado indenizar a mãe do menino pelo trastorno gerado? Muito mais que um dissabor? Realmente a resiliência da data de vergonha na cara é algo que merece estudo.

  3. Quero ver explicar isso ao Ministério Público. O jornalista faz bem a sua parte, divulgado a desculpa esfarrapada. Tantas perguntas sem resposta virão à tona. Porque condomínio de alto padrão e não outro qualquer, prédio comercial ou residencial mais barato? Porque não na SESP ou outros imóveis do Estado? Para que suítes, hidromassagem, cozinha equipada e outros confortos? Quem efetivamente lá trabalhava e o que fazia que não podia ser em outro lugar qualquer a um custo razoável e justificável?

  4. Mas então, serviria para a mesma coisa a casa na Rua 7 de Abril, 664, Alto da XV, Curitiba (em frente, na calçada, há uma banca de revistas)? Também da SESP, mas sem nenhuma identificação de que se trata de uma propriedade pública? Quem paga impostos para o governo tem o direito de saber para que serve este imóvel!

  5. Baixou o santo do Rolando Lero na explicação da “garçoniére”. Haja saco pra aguentar isso. Entra e sai de homens (e mulheres?) de preto em condomínio fechado para ações de inteligência da polícia? Muito discreto. Bravo!

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