Grávidas brasileiras e a proteção do Estado

(por Ruth Bolognese) – Por ter sofrido na carne uma violência extrema contra uma das minhas filhas que estava grávida – e que não posso relatar por decisão do Tribunal de Justiça do Paraná – qualquer fato que leve ao assunto me dá um nó na garganta.

Se já não consegue proteger seus cidadãos em nenhuma circunstância, o Estado brasileiro vai além e é capaz de prender uma mãe em trabalho de parto: uma grávida de 24 anos foi detida com 9 gramas de maconha em São Paulo, na semana passada. Quando começou a sentir as dores na delegacia, foi encaminhada para um hospital e três dias depois voltou com o recém-nascido para a mesma cela do 8.º Distrito Policial.

Também em São Paulo, uma grávida de 19 anos, no nono mês, está detida no presídio Franco da Rocha por ter roubado comida.

Só as mães conseguem entender o alcance de violências como essas. Grávidas são mais frágeis do que as crianças. Até porque estão gerando uma delas. São famintas, suscetíveis, instáveis, à mercê de uma revolução de hormônios e devem ser alimentadas, respeitadas, protegidas e acalentadas por tudo isso junto.

Uma grávida pobre e com fome está no ponto mais fraco da escala humana e ao ser presa, levada para um delegacia ou presídio, mostra que estamos no meio da barbárie.

Na sexta-feira a segunda turma do STF, Supremo Tribunal Federal, analisa habeas corpus coletivo que pede prisão domiciliar a todas as mulheres grávidas ou mães de crianças até 12 anos.

Do jeito que está o Brasil hoje vai ter gente dizendo que essa “regalia” poderá aumentar a criminalidade, e que muitas mulheres grávidas passarão a roubar e a cometer crimes pela brecha na lei.

Ora, quando uma brasileira tiver que fazer essa opção, eis aí o sinal claro que não estamos mais no meio da barbárie. Nos transformamos nos próprios bárbaros.

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