EXCLUSIVO: O ÁUDIO QUE COMPROVA A TENTATIVA DE NEGOCIATA

Véspera do Carnaval de 2014. Pedro Rache, executivo da empreiteira Contern (empresa do grupo Bertin), se apresenta à secretária do chefe de gabinete do governador Beto Richa, jornalista Deonilson Roldo, no Palácio Iguaçu. Soletra seu nome e o da empresa. Ela anota também o número de celular do visitante. Pedro estava lá atendendo a um chamado urgente de Deonilson. Logo depois, o executivo era introduzido à sala do chefe.

Durante 18 minutos os dois (foto) conversaram amenidades: filhos, viagens, um pouco da história profissional, de obras que estavam sendo tocadas em outros estados etc. Isto tudo pode ser ouvido na gravação que, preventiva e sabiamente, o executivo fez da conversa.

O Contraponto teve acesso integral ao áudio de 36m47s, mas reproduz abaixo o que disseram os interlocutores a partir dos 18m09s do diálogo. É deste ponto em diante que, sem nenhuma edição, o áudio é reproduzido abaixo.

Esgotadas as gentilezas de praxe, Deonilson entra no assunto objeto da “convocação” que fizera ao representante do grupo Bertin – a concessão das obras e da posterior exploração do pedágio da rodovia PR-323, no formato de PPP (Parceria Público Privada). Rache confirma que a Bertin estava inscrita na licitação e já estava preparada com 800 equipamentos próprios e 6 mil funcionários para tocar a obra. Deonilson avisa, porém, que o governo já tinha compromisso com outro concorrente e propunha um “entendimento” amigável.

O “entendimento” consistiria, basicamente, na desistência por parte da Bertin de concorrer na licitação. Em troca, ganharia a solução de um outro negócio no qual tinha interesse e já iniciado pela empresa junto à Copel, no valor de R$ 500 milhões, envolvendo o complexo de termelétricas de Aratu, na Bahia.

A resposta teria de ser rápida, de preferência naquele mesmo momento, já que a abertura da licitação se daria nos dias seguintes, logo após o Carnaval. Pedro Rache entendeu logo o esquema, mas sua voz denota nervosismo quando ele informa Deonilson de que precisaria consultar os sócios italianos, com os quais já tinha firmado contrato. Demandaria uma viagem à Itália e, diante disso, pediu mais prazo para dar resposta – quem sabe lá pelo dia 15 de março.

Deonilson propõe que Pedro Rache se entendesse diretamente com a Odebrecht para uma eventual composição entre as duas empresas. O executivo da Bertin rechaça a ideia e responde que só teria este tipo de conversa se a determinação partisse do Palácio Iguaçu e dirigida à própria Odebrecht. Com o que Deonilson parece assentir.

Semanas depois sai o resultado da licitação: a Odebrecht entrou sozinha (em consórcio com a construtora paranaense Triunfo) e, logicamente, ganhou a concorrência. O contrato foi festivamente assinado pelo governador Beto Richa, orgulhoso de colocar o Paraná como pioneiro em PPPs para obras e concessões rodoviárias.

A alegria durou pouco. A Lava Jato estourou exatamente no mês de março e não demorou muito para identificar a Odebrecht como a maior e principal envolvida nos esquemas de propinagem na Petrobras. A empreiteira refluiu e teve de desistir da parceria com o governo paranaense.

Meses depois, Benedicto Junior, diretor da Odebrecht, faz delação premiada e revela que a empreiteira tinha se comprometido a pagar propina de R$ 4,5 milhões para garantir a obra. Deu R$ 2,5 milhões adiantados e ficou de repassar os outros R$ 2 milhões posteriormente.

O resto da história, com todos os múltiplos envolvimentos da Odebrecht na Lava Jato, todo mundo sabe. O que não se sabia até agora é que a Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba tinha também em mãos a gravação feita por Pedro Rache e que já procedia as investigações a respeito – conforme revelou a revista IstoÉ na edição eletrônica que colocou no ar na noite desta quinta-feira (10).

O MPF deve ter esperado a renúncia de Beto Richa do governo estadual para, com a perda da prerrogativa de foro privilegiado que detinha como governador, poder apurar os fatos sem precisar encaminhá-los à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília.

 

7 COMENTÁRIOS

  1. E o sujeiito saiu com o Betinho para assumor uma direçao na Copel. JUSTAMENTE A DE RELAÇOES INSTITUCIONAIS OU EMPRESARIAIS, coisa do gênero.
    Vem delação premiada aí e depoos toda aquela conversa mole do Betinho, dizendo que nao sabia de nada e que lamentava o abuso de confiança de confiança do não brimo.

  2. Mais de 18 minutos pra chegar ao que interessa? Com certeza as esposas devem ter ficado deveras ciumentas com tão longa preliminar que jamais experimentaram com os interlocutores.

  3. Provas sobram, mas não parecem estar muito convictos, por isso 4 anos depois deu em nada…
    Pq essa gravação não foi vazada? Não estavam convictos o suficiente?

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