Ex-diretor da Polícia Federal por mais de seis anos, o delegado (hoje aposentado) Leandro Daiello comandou as mais espetaculares operações de combate à corrupção no país. As que vieram depois tiveram origem, em sua maior parte, nos trabalhos já iniciados na sua gestão.
A Polícia Federal já fez tudo que podia? Esta é a pergunta que o jornal O Estado de S.Paulo fez a Daiello em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo, sob pressão dos políticos e empresas incomodadas com a frequência e o teor explosivo das operações, especialmente a Lava Jato.
As grandes operações da PF vão continuar?
Esse negócio não vai parar. O que tinha de papel e dados digitais na polícia quando eu saí era suficiente para quatro ou cinco anos de operações. Não tem outro jeito. Você vai na empresa e acha uma sala inteirinha com papéis, aí começa a cruzar e vem a operação. Quando eu saí tínhamos um projeto de modernização e informatização para novos focos. O sistema Atlas tem uma capacidade de processamento absurda. O que um policial demorava sete, oito dias para fazer ele faz em um minuto. Demora mais para imprimir do que para processar.
Pode surgir algum setor novo?
A polícia nunca focou em setor, focou no dinheiro. Quem usou a lavanderia vai aparecer. Porque o doleiro não é mais o tradicional que vendia dólar no paralelo, a cotação até saía no jornal. O doleiro hoje é uma lavanderia. Você paga para receber o dinheiro limpo. Fizemos uma avaliação lá atrás e ficou claro que os si temas de controle de atividade financeira melhoraram muito – Coaf, Bacen, Polícia Federal. Se você mexer no sistema bancário ou financeiro, começa a disparar alarmes. Aí você precisa achar outro mercado de lavanderia. Isso é uma boa notícia para o Brasil. O foco das operações iniciais nunca foi a Petrobrás. Eram os doleiros.
Continuam sendo?
Estes doleiros ainda vão dar muito trabalho. Quem ia esperar que chegaríamos neste momento da história em que as autoridades teriam liberdade para agir, respaldo do Judiciário, que iriam mandar prender 50? Ficar prendendo gente não é solução para tudo. Mas que o Brasil mudou, mudou. Na época em que entrei na PF ver um doleiro preso era inimaginável.