Eu, maconheira

(por Ruth Bolognese) – Achei um meio cigarro de maconha no parapeito da janela da cozinha. Um “bagulho” (ainda chamam assim?) esquecido pela galera distraída que frequenta a casa em que moro em Curitiba com meu neto Pedro, 22 anos, quartanista de Direito da UFPr.  Quando vou pra Paraíso do Norte isso aqui vira o verdadeiro paraíso, pra eles, com garrafas pet de coca-cola espalhadas, pacotes amassados do I Food e por que não né? Maconha.

Olhei o “bagulho”, pensei na Betty Fria, na Rita Lee, na marcha da Maconha, na Holanda e…fumei a  “mardita”. O sentimento inicial foi, assim, de uma ex-virgem, uma pequena safadeza aos 64 anos. Ousadia pessoal na cara desses jovens que sabem tudo, os craques da tecnologia, inglês fluente, o mundo deste tamaninho. Vingança marota de quem não pode nem salgar demais a batatinha do Mac. E até dormi um pouquinho de tarde, me sentindo totalmente zen.

Revelei o segredo no grupo de watts da família e os contemporâneos caíram na gargalhada. O neto Pedro, que deveria se explicar pelo meu achado, não apenas riu de montão como me apunhalou pelas costas. Contou pra todo mundo que o tal “bagulho” de maconha era, na verdade, uma butuca de cigarro de palha enrolado com tabaco, fumo mesmo. Quem esqueceu foi o amigo dele, o Lenha, um “hisper” (moderninho), natureba, que gosta de umas tragadas originais de vez em quando.  “Tabaco, Vó, você fumou tabaco!”

Mas o cheiro era parecido com maconha, eu juro, Gente!

E o Pedro,  sem dó e sem piedade, ainda anunciou pra família que, de agora em diante, vai esconder o açucareiro.

Teme que eu comece a cheirar açúcar branco. Tra-í-ra!!! Vai ter volta, a se vai!

 

2 COMENTÁRIOS

  1. Achei genial esse texto. Em maio fui a Amsterdam com uma amiga, ambas sessentonas, e compramos o bolinho de maconha p/ experimentar o barato. Tbem coloquei no grupo familiar minha aventura. Tds tiraram sarro, inclusive meus sobrinhos. Mas valeu!!!

  2. Rutth muito bom saber que vc está no CONTRAPONTO e com o Celso fazendo o que há de melhor em artigos políticos e outras crônicas, jornalismo sem medo.
    O artigo acima está sensacional, pela leveza e pelo fato de ter ficado Zen com tabaco puro ou fumo de rolo. Em nossa idade é permitido experiências dessa natureza e está certo o Pedro em esconder o açucareiro e sugiro também esconder o trigo e o sal. Kkkk!
    Seu texto me alegrou esta manhã, parabéns !!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui