(Por Ruth Bolognese) – Até onde a memória alcança, os professores do Paraná foram jogados pras traças, desconsiderados, desrespeitados e literalmente machucados por todos os Governos que passaram pelo Palácio Iguaçú nos últimos 30 anos. É só puxar o fio da meada:
Alvaro Dias – No final dos anos 80 o massacre da cavalaria durante manifestação no Centro Cívico teve o efeito bombástico e traumático de quase acabar com a carreira do então jovem governador Álvaro Dias. Os ecos do embate perseguem Alvaro até hoje. E nunca mais professores e governo do Paraná se sentaram numa mesa de “negociação” sem riscar o chão e cuspir antes.
Roberto Requião – Por precaução, escaldado pela experiência de Alvaro Dias, Requião nunca encostou um dedo num professor e até criou um plano de carreira para a categoria. Mas, num ataque de machismo, ou de insanidade, ou ambos, Roberto Requião quis saber, diante das câmeras, como era a vida sexual de uma professora no Interior do Paraná. Se fosse hoje, daria processo por assédio sexual igual ao do tarado do ônibus de São Paulo.
Jaime Lerner – Como tudo que diz respeito ao arquiteto, ele quis dar uma roupagem hipster para a educação no Paraná. Gastou os tubos para transformar uma área de lazer da Copel , “Faxinal do Céu” e promoveu alí o maior e mais duradouro evento que se tem notícia no mundo de autoajuda educacional.
Os professores passavam uma semana longe das escolas, viviam uma experiência transcendental – cantavam, batiam palmas, brincavam, choravam de emoção – e depois pegavam o busão de volta para enfrentar a realidade das escolas sem material escolar, carteiras quebradas e goteiras. E o salário, óóóh…
Beto Richa – Como era um piá de Londrina quando houve o massacre de Álvaro Dias, o coitadinho do Beto Richa não se ligou na parada. No primeiro Governo foi na onda do então secretário da Educação, Flávio Arns, que fala como padre e age como ex-padre, e aumentou em 34% os salários de todos os professores. Logo descobriu que o caixa do Paraná não era tão inesgotável como o da mulher dele, dona Fernanda, e deu o calote.
Aí, veio o ódio entre os dois lados. Na campanha para a reeleição, Richa chegou a chamar os professores de “laranjas podres” e, reeleito, reprisou o massacre de Alvaro Dias no Centro Cívico, 28 anos depois.
Poderia ter ficado por aí. Mas foi no dinheiro destinado para as escolas do Paraná que os articuladores da campanha de Beto Richa para a reeleição colocaram a mão. É a operação chamada pelo Ministério Público do Paraná, acertadamente, de “Quadro Negro” e que atingiu em cheio o Palácio Iguaçu no começo da semana. No mínimo R$ 20 milhões fizeram o desvio das escolas para a campanha eleitoral.
Depois de tudo isso, de tantos anos de desencontros e desacertos, a APP-Sindicato poderia ser a OLP – Sindicato, que ainda assim estaria de bom tamanho.