Eleitor decide primeiro em quem “não” vai votar

(por Lucas Valença, Correio Braziliense) – A definição é certeira: antes de escolher em qual candidato planeja votar para presidente, o eleitor decide, primeiro, em quem ele não pretende escolher “de forma alguma”. Segundo especialistas no assunto, essa decisão segue um caminho específico na cabeça dos cidadãos, que vai desde a ideologia até a observação das opiniões dadas pelos concorrentes durante a campanha. Por isso, a “eliminação”, na maioria das vezes, ocorre bem antes da certeza por um postulante.

Para o cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Monteiro, a decisão do voto passa, inicialmente, pelo veto às opiniões e às tendências políticas do cidadão. O eleitor possui muita informação disponível e, por essa razão, procura reduzir os candidatos e partidos que ele “sequer” vai olhar. “Se você é tradicionalmente de esquerda, você já tende a negar os candidatos de direita. Da mesma forma, se você é conservador, tende a negar os candidatos esquerdistas, e assim por diante”, esclarece.

Após excluir os “políticos indesejados”, o cidadão passa a analisar aqueles que possuem mais compatibilidade com suas opiniões e entendimento do mundo. O professor também ressalta que “uma parcela expressiva” dos eleitores passa a se informar sobre os candidatos quando o pleito se aproxima. “Isso é um processo normal. No mundo inteiro, cerca de 85% dos entrevistados, em média, não demonstram interesse pela política. Já que elas não ficam o tempo todo ligadas na política, acabam se informando, normalmente, 15 dias antes do pleito”, afirma.

Já o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Aninho Irachande entende que as circunstâncias de acirramento político desta eleição fazem com que o eleitor tenha mais claramente a ideia sobre em quem ele não quer votar. Por outro lado, Irachande ressalta que a falta de conhecimento das “propostas reais” dos candidatos faz com que o cidadão não tenha certeza do representante a quem deseja delegar o voto. “A nossa campanha, infelizmente, não é propositiva, não apresenta ideias ou alternativas. Por isso, eu consigo dizer em quem eu não quero, mas não em quem pretendo votar”, explica.

Segundo o acadêmico, o índice de indecisos e a percentagem “elevada” de pessoas que declaram votos brancos e nulos, em um período próximo da eleição, decorre da falta de identificação do cidadão com propostas mais concretas. “Nessas circunstâncias, sobra o critério da rejeição, tanto por ideias quanto por coisas que consideram reprováveis”, conta o professor.

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