O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello suspendeu na noite desta segunda-feira (17) dois processos contra o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, que podem resultar em seu afastamento da Lava Jato e que estavam pautados para esta terça-feira (18) no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A informação é do blog O Antagonista.
“A remoção do membro do Ministério Público de suas atribuições, ainda que fundamentada em suposto motivo de relevante interesse público, deve estar amparada em elementos probatórios substanciais, produzidos sob o crivo do devido processo legal, garantido-se o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa, sob pena de violação aos postulados constitucionais do Promotor Natural e da independência funcional do membro do Ministério Público”, escreveu.
A defesa do procurador apontou uma série de irregularidades nos processos, movidos por Renan Calheiros (MDB-AL) e Kátia Abreu (PP-TO), que acusam Deltan de atuar politicamente e sem isenção à frente da força-tarefa. Entre os problemas, está a rejeição de depoimentos de 38 testemunhas de defesa indicadas por Deltan Dallagnol nos processos, principalmente de colegas da força-tarefa; e a inclusão de acusações novas, sem direito à ampla defesa, ou antigas, já arquivadas pelo próprio CNMP.
O processo de Kátia Abreu lista fatos a criação do fundo da Lava Jato com dinheiro pago pela Petrobras aos EUA (decisão já suspensa pelo STF, mas sem punição a Deltan); as palestras em favor da Lava Jato (julgadas legítimas pelo CNMP) e a própria existência de reclamações disciplinares no CNMP contra a força-tarefa (a maioria apresentada por políticos alvos das investigações).
No final de julho, o relator, Bandeira de Mello, ainda incluiu na acusação uma suposta colaboração do FBI na Lava Jato; a suspeita de que a força-tarefa investigou de forma camuflada Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre; e a fake news de que a força-tarefa fazia grampos telefônicos ilegais dentro do MPF.
O processo movido por Renan Calheiros, por sua vez, acusa Deltan de interferir na disputa pela presidência do Senado no ano passado, por meio de postagens nas redes sociais que alertavam para o risco de retrocesso no combate à corrupção caso ele fosse eleito.
Renan Calheiros, no entanto, desistiu da disputa no dia da votação final, quando sua derrota tornou-se iminente. Pesou na retirada de sua candidatura o apoio velado do governo e a declaração de voto de Flávio Bolsonaro em favor de Davi Alcolumbre (DEM-AP).