A rainha Elizabeth II saiu-se com a expressão latina “annus terribilis” para expressar seu sentimento a respeito dos eventos tristes e dos escândalos que acossaram a família real em 1997 – a revelação dos amores clandestinos da princesa Diana seguida de sua morte trágica em Paris junto com o namorado, os bilhetes libidinosos que o herdeiro do trono, Charles, dirigia à então amante Camila Parker, sem falar nas noras de topless que faziam a alegria e aumentavam as vendas dos tabloides londrinos.
O ex-governador Beto Richa poderia recorrer à mesma expressão para definir o que foi 2018 para ele. O ano até que começou bem: durante os três primeiros meses, do alto da pretensa popularidade que lhe garantiria uma eleição tranquila para o Senado, fingiu que não largaria o governo, para agonia da vice-governadora, Cida Borghetti, e de seu marido, o poderoso deputado Ricardo Barros – ávidos para cumprir os nove meses finais do mandato.
Em alguns momentos, é possível que Beto pensasse mesmo em ficar no Palácio, pois já então era visado pelas investigações da Lava Jato e operações correlatas, como a do Quadro Negro. Sem mandato e sem foro privilegiado, poderia ser alcançado pela Justiça.
Por fim, no entanto, em seis de abril, último dia do prazo para poder se habilitar à candidatura ao Senado, renunciou ao cargo de governador e passou o bastão para Cida.
Cida garantiu o que lhe parecia o grande trunfo para a reeleição. E aí começou outro capítulo do “annus terribilis”.