Obrigar professores e estudantes de instituições de ensino superior a voltar às aulas presenciais, mesmo que no sistema híbrido e respeitando normas de segurança contra a Covid-19 é uma irresponsabilidade que pode colocar milhares de vidas em risco. Essa é a posição defendida pelo Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes). O sindicato alerta que universidades em vários Estados estão voltando atrás e postergando a volta às salas de aula.
Em São Paulo, por exemplo, as universidades públicas e privadas decidiram, no dia 11 de março, manter apenas o ensino remoto na maior parte dos cursos. “Estamos trabalhando com muita cautela, priorizando a saúde e a vida das pessoas”, afirmou a pró-reitora de graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Célia Maria Giacheti, ao jornal Folha de S. Paulo. No estado, um monitoramento feito pela Secretaria Estadual de Educação apontou que foram registrados 4.084 casos de Covid-19 em escolas públicas e particulares entre 3 de janeiro e 6 de março deste ano. No período, foram registradas 21 mortes pelo coronavírus na rede de ensino — sendo dois alunos e 19 servidores.
Estudos científicos recentes apontam que manter escolas fechadas é um dos meios mais eficientes de se conter o avanço da pandemia. Em 29 de março, na Comissão de Educação da Câmara de vereadores de Vitória, no Espírito Santo, a coordenadora do Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel, destacou que a revista Science publicou estudo que analisou a resposta de 41 países à pandemia. O estudo afirma que o lockdown com escolas fechadas ou salas com menos de 10 pessoas foram as medidas mais eficientes para deter a Covid-19. A especialista reconhece, porém, que o país não investiu nessa tecnologia, apostando mais em medidas que viriam depois na escala de prevenção, como os protocolos de segurança e os equipamentos de proteção individuais. Ethel apontou que o Brasil está longe de uma volta segura às aulas de acordo com critérios divulgados pela própria Fiocruz. Um deles é o índice de transmissão de até 0,5. Hoje esse índice ainda é maior que 0,5. Acresça-se o fato de que o índice de lotação das UTIs do SUS divulgado ainda se encontra bem próximo dos 100%, o que bem evidencia a insanidade do retorno presencial.
Curitiba e Região Metropolitana contam com mais de 120 mil alunos de ensino superior, segundo dados do Censo da Educação Superior de 2018. Destes, cerca de 72% estão no ensino privado que agora ameaça a volta às aulas presenciais no pior momento da pandemia.
Essa volta certamente representará um agravamento no número de casos e mortes por Covid-19 na capital paranaense e nas cidades de sua Região Metropolitana. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa-PR) divulgados em março, a média de idade dos infectados, no estado, é de 39 anos. A faixa etária com o maior número de casos é de 30 a 39 anos, seguida de 20 a 29 anos e de 40 a 49 anos. O Mapa do Ensino Superior no Brasil 2020 mostra que o estudante das instituições de ensino superior brasileiras tem um perfil bastante claro: é branco, do sexo feminino, com idade entre 19 e 24 anos e estuda em instituições privadas à noite. Ou seja, se encaixa na segunda faixa de maior faixa de infecção por Coronavírus (20 a 29 anos).
A eles, se somam cerca de cinco mil professores e professoras e em torno de dois mil auxiliares de administração escolar que trabalham em instituições privadas. Destes muitos pertencem a grupos de risco como revelou pesquisa feita pelo Sinpes no mês de fevereiro, quando 32,2% dos entrevistados declarou pertencer a estes grupos. Na mesma pesquisa, 81,9% responderam que são contra o retorno das aulas presenciais antes das vacinas chegarem aos professores.
Professores e professoras estão expostos diariamente nas salas de aulas, dado que bom rodízio é só de alunas/os, o que na prática significa que docentes são obrigados ao retorno integral das aulas.
O Sinpes reforça sua posição contrária à volta as aulas presenciais. Posição essa corroborada pelo próprio Município de Curitiba e pelo Estado do Paraná, que já revelaram em pronunciamentos do prefeito Rafael Greca e do governador Ratinho Júnior que o retorno das aulas presenciais na rede estadual e municipal deve acontecer apenas em maio, já que a ideia é aguardar que os professores sejam vacinados contra a Covid-19 para garantir um retorno mais seguro às escolas.
Para o presidente do sindicato, Valdyr Perrini, não há razão plausível para que as instituições de ensino superior pública recebam tratamento diferenciado das instituições de ensino privada nesse particular. “A exemplo da conduta praticada em relação às instituições públicas, também as instituições privadas de ensino superior devem aguardar a vacinação de alunos e professores para retomarem suas atividades presenciais. Recorda que o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou considerando de natureza ocupacional doenças pandêmicas contraídas em face do trabalho prestado, razão pela qual a intransigência das instituições de ensino privada acabará se tornando verdadeiro tiro no pé”, destaca Perrini. (Do Sinpes).