“Algumas pessoas se sentiram profundamente ofendidas [pela manifestação contra o racismo ter adentrado à igreja] e a elas eu peço perdão, pois não foi, de fato, a intenção de magoar ou ofender o credo de ninguém, até porque eu mesmo sou cristão”, disse, nesta quarta-feira (9), o vereador Renato Freitas (PT). No início da sessão na Câmara Municipal de Curitiba (CMC), o parlamentar repassou o acontecido no último sábado (5), quando um protesto contra o racismo levou à invasão da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo da Ordem.
Renato Freitas reafirmou que a manifestação foi convocada por diversos movimentos sociais, entre eles a Associação dos Imigrantes Africanos no Brasil, e que, naquele dia, atos semelhantes ocorreram em todo o país em protesto contra o assassinato do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, no Rio de Janeiro. Citando o depoimento do padre Luiz Haas, daquela igreja, à emissora de tevê RPC, o vereador reafirmou que a missa já havia terminado quando “a manifestação, de forma espontânea, as pessoas ali entenderam que passar a mensagem da valorização da vida dentro da igreja seria adequado”.
“Como disse o padre [à RPC], a igreja estava vazia e não havia missa naquele momento, e não foi mexido em uma vela, e o microfone em que falamos foi cedido pelo padre, e as pessoas da manifestação, como mostrou a Tribuna [do Paraná, em vídeo], vieram ordeiramente”, continuou o parlamentar. Renato Freitas manifestou-se novamente contra o racismo, agradeceu a mensagem de apoio recebida do Frei David, da Pastoral do Negro, de São Paulo, e disse que a discriminação não deve ser tolerada.
Afirmando não ter participado da organização do protesto, nem adentrado a igreja, Carol Dartora (PT) confirmou ter ido ao Largo da Ordem no sábado “como manifestante”. “Por sentir na pele todos os dias o racismo, eu estava na frente da igreja protestando. Infelizmente, o que aconteceu naquele sábado tem sido extremamente distorcido”, afirmou a vereadora, que reportou estar sofrendo agressões racistas pelas redes sociais devido ao episódio. Para Dartora, o que tem acontecido são “tentativas de polarização, de uso político [do acontecido] para criminalizar o nosso partido e de nos criminalizar enquanto sujeitos negros e a nossa indignação contra o racismo”.
Lembrando a relação do Partido dos Trabalhadores com a Igreja Católica, em especial com as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), Carol Dartora afirmou que “nossas lutas e nossas bases em comum não serão dissolvidas por tentativas de polarização”. Ela destacou o trecho da nota da Arquidiocese de Curitiba em que Dom José Peruzzo diz que “não se quer partidarizar, polarizar ou exacerbar as reações”. Nas sessões de segunda e terça-feira, vereadores têm feito duras críticas a Renato Freitas pela invasão da igreja, relatado o repúdio de organizações religiosas de todo o país e manifestado o desejo que o Conselho de Ética da CMC se posicione a respeito.
Denúncia à OAB-PR
Por considerar que a invasão da igreja é uma afronta aos princípios da advocacia, o vereador Eder Borges (PSD) informou ao plenário que entrará com representação contra Renato Freitas na seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para Borges, “a responsabilidade do cargo de vereador não contempla a marginalidade e a quebra de decoro”. O parlamentar é um dos 19 membros da CMC que repudiaram a invasão da Igreja do Rosário em plenário.
Hoje, Osias Moraes (Republicanos) disse ter recebido manifestação da União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos “pedindo que a lei seja cumprida”. Moraes reiterou seu entendimento de que a interrupção de culto é tipificada no Código Penal e que “não podemos fazer vista grossa”. “Que sejam identificados os organizadores, para que haja uma resposta aos cristãos”, disse.