Vamos pensar o Brasil como Teotônio Vilela?

Se as coisas são inatingíveis… ora! / Não é motivo para não querê-las… / Que tristes os caminhos, se não fora / A presença distante das estrelas! – Mario Quintana.

Por Luiz Claudio Romanelli* – No dia 22 de abril comemora-se o descobrimento do Brasil. A data praticamente caiu no esquecimento do senso comum da nossa sociedade, mas sempre abre uma janela para tentarmos nos redescobrir. Poderíamos começar retomando uma lição deixada pelo ex-senador Teotônio Vilela: O Brasil é um País potencialmente senhor do futuro, porque o próprio futuro se encontra dentro dele.

Vilela foi um político raro. Menestrel das Alagoas, sua voz ecoava com valores singulares, transcendendo ideologias. Era capaz de dialogar com esquerda e direita quando o assunto tratava do destino do País. Além disso, deixou marcas profundas na vida pública com a sua luta pelas Diretas Já e pela anistia ampla, geral e irrestrita. Hoje, mais do que nunca, sua visão de união e grandeza política poderia servir como uma luz em tempos de divisão.

Nestes 524 anos de Brasil, fomos colônia, império, república e ditadura. Atualmente, vivemos o maior período democrático do País. Em 2025, serão 40 anos do fim do regime militar e do surgimento da Nova República. Isso não significa que a democracia – seja como regime político, seja como modo de vida – está absolutamente preservada. Como vimos recentemente, sempre há alguém achando que pode tomar o poder pela força.

Felizmente, as instituições republicanas resistiram a um novo golpe. Contudo, ao observar que alcançamos certa maturidade institucional e de respeito ao Estado Democrático de Direito, não se pode ignorar que a polarização política só cresce e, de certa forma, converte as liberdades democráticas em posições mais extremas e inflexíveis, o que dificulta a busca por soluções de consenso e o comprometimento com o bem comum.

Claro que a polarização não é um privilégio brasileiro. A maior democracia do mundo, os Estados Unidos, é um exemplo clássico de concentração política em dois grupos distintos, com pouca abertura para uma via diferente. Em várias nações ao redor do mundo há um aumento significativo da divisão social entre diferentes ideologias. Não faltam situações de radicalismos e confrontos cada vez mais acirrados.

Por aqui, enquanto sobressaem as discussões sobre os decrépitos conceitos de esquerda e direita – ou, numa versão mais atual, de teses progressistas ou conservadoras – fica de lado o papel inovador que a democracia tem e que a gente esqueceu, que é oferecer às pessoas um ambiente que permita construir a prosperidade comum, independente da preferência ideológica de quem está no comando do País.

Em que medida o discurso polarizado tem contribuído para reduzir a imensa desigualdade social e as injustiças que permeiam a sociedade brasileira? Até quando vamos conviver com a concentração de renda e a falta de oportunidades aos mais pobres? Que ações serão adotadas para impactar positivamente a qualidade de vida da população? Em quanto tempo e como vamos resgatar a dignidade dos milhões de brasileiros que vivem em situação de miséria?

Diante dos desafios colocados ao Brasil, é cada vez mais urgente discutir – de forma inteligente! – e implementar políticas públicas eficazes e que promovam a inclusão social e a redução da pobreza. Se isso vai ser feito pela via da direita ou da esquerda, pouco importa. Está passando da hora de termos um esforço conjunto e contínuo para garantir um futuro mais justo e igualitário para todos os brasileiros.

Ao contrário de alimentar as massas com falas estéreis, os duelistas de plantão deveriam tratar de programas para ampliar o acesso a serviços básicos e promover o fortalecimento da educação pública para garantir oportunidades iguais para todos, independentemente da condição social. Poderiam dar atenção às políticas afirmativas para a promoção da igualdade racial e de gênero, e criar soluções sustentáveis de emprego e renda para que as populações mais vulneráveis não sobrevivam apenas da rede de assistência social.

No livro “Senhor República – A Vida Aventurosa de Teotônio Vilela, um Político Honesto”, o jornalista Carlos Marchi lembra que na campanha para o governo de Alagoas, em 1958, o então candidato Luiz Cavalcanti definiu assim o companheiro de chapa: “Os contrastes do Brasil, Teotônio, estão harmonizados em você”. Vamos pensar o futuro do nosso Pais como Teotônio Vilela pensou?

*Luiz Claudio Romanelli é advogado, especialista em gestão urbana e cumpre mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Paraná pelo PSD.

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