Terça-feira Santa: o gado, as diárias e o ar-condicionado

Desde que chegou ao governo, o profeta Valdir Rossoni instituiu as “Terças-feiras Santas” no Palácio Iguaçu, o mais novo templo do Centro Cívico. Terça-feira é o dia sagrado em que prefeitos, vice-prefeitos e vereadores de todos os cantos do Paraná vão ao Palácio Iguaçu para beijar a mão do grande Messias dos Recursos Prometidos, o governador Beto Richa, e dos bons pastores das emendas, os deputados aliados. Muitas vezes, como hoje (21), quantias muito significativas são distribuídas.

Por exemplo: há representantes de municípios pequenos que vieram assinar convênios de “generosos” R$ 8 mil do Águas Paraná ou, como informa a AEN, a “grande” liberação da SEAB, que destinou R$ 3,56 milhões entre 34 municípios. Afinal, o ensinamento bíblico ensina que há de se repartir o pão, por mais pequeno que seja.

O roteiro da “Terça-feira Santa” começa na Assembleia Legislativa, onde as lideranças encontram os deputados e dali seguem para o Salão Nobre do Iguaçu. Lá, esperam por Beto, que sempre chega atrasado – coisas do ofício. Com a chegada do governador, começa então o culto, seguindo sempre a mesma ordem: um fiel prefeito fala por todos e é seguido por um deputado, por um secretário, por Rossoni e, por fim, por Beto, o Messias, que fala sobre o ajuste fiscal e de como está transformando o Paraná na Terra Prometida. Mais recentemente, os eventos têm ficado até mais animados com os testemunhos sempre motivadores da vice-governadora Cida Borghetti.

Como o turismo religioso não sai barato, os prefeitos e vereadores precisam de dinheiro para bancá-lo. E dá-lhe diárias de prefeituras e câmaras municipais. E apesar de em muitos casos o orçamento ser pequeno, tem fiel prefeito/vereador que não cai em tentação e nem se preocupa com falsos profetas como os do Ministério Público ou Tribunal de Contas, que estão de olho nessa farra: toda semana está no Templo, com foco, força, fé e diárias.

Mas há algo que tem incomodado muito os prefeitos e vereadores: é a falta de ar-condicionado ou qualquer ventilação decente no Salão Nobre do Templo. Não se sabe ao certo de quem é a culpa, mas é algo notado há um certo tempo. “Ser tratado como gado tudo bem, mas pelo menos poderia ter ar-condicionado”, reclamou um prefeito hoje.

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