Só comprar ônibus novo não resolve

Da coluna assinada na Gazeta do Povo deste fim de semana:

Transporte coletivo exige soluções mais importantes do que comprar ônibus novo

(por Celso Nascimento) – Que o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana está andando em marcha à ré ninguém tem mais dúvidas. Já se faz longe o tempo em que ele servia de modelo para o mundo. Atualmente, apesar da baixa qualidade do serviço, o curitibano paga a passagem mais cara do país. O que precisa ser feito para tirar o sistema do atoleiro?
Só comprar ônibus novo não resolve

Em poucos anos, intervenções políticas e demagógicas mantiveram tarifas que obrigavam o poder público a subsidiá-lo. Deixou de ser autossustentável e obrigou os governos a tirar dinheiro de outros serviços essenciais, como saúde, educação e segurança, para garantir que as concessionárias mantivessem seus lucros.

Também por motivações políticas, a rede que um dia foi metropolitana – isto é, que atendia a todos os municípios do entorno de Curitiba com tarifa única – se desmantelou. Não há quem tenha uma boa ideia para trazê-la de volta e todo mundo tira o corpo fora quando se vê diante da denúncia de que frotas clandestinas de carros acabam prestando serviço melhor (e quase pelo mesmo preço) do que os ônibus metropolitanos. Nem Comec nem Urbs tomam providências – aliás, a única providência realmente eficaz para acabar com os clandestinos seria melhorar o transporte público. Mas, quem há de?

Concorrência frankenstein

Fizeram uma concorrência em 2010 para “regularizar” a situação de precariedade das linhas permissionárias para transformá-las em concessionárias. O edital ficou parecido com um frankenstein, além de guardar segredos que o Ministério Público, o Gaeco, o Tribunal de Contas e a Câmara Municipal não fazem muita questão de desvendar.

Greves e supostos locautes se sucedem, deixando o povo a pé e, como efeito colateral, fechando lojas, indústrias e serviços, com prejuízos de milhões à economia. E ainda por cima tudo comandado por sindicatos de duvidosa reputação.

Enfim, acabou-se o que era doce!

Se você pensou em metrô como único jeito de melhorar o que aí está, esqueça. Além de caro e inacessível às possibilidades de caixa dos governos e desinteressante para a iniciativa privada, não é exatamente a solução ideal, principalmente se pensado apenas como uma linha única ligando o Sul ao Norte da capital, conforme todos os projetos apresentados e engavetados desde os tempos de Beto Richa prefeito.

 A questão é mais social do que tecnológica

Também não é só substituindo os ônibus velhos, caindo aos pedaços, por novos e modernos que o transporte coletivo chegará ao nirvana. Nem perto disso. Porque este, pensando bem, nem é o maior problema causador do caos que aflige diariamente 1 milhão de pessoas que precisam ir e vir de ônibus.

Sim, o problema é também tecnológico quanto aos veículos utilizados; é também econômico; é também de engenharia viária; é também de redimensionamento e redirecionamento das linhas; é de segurança para os passageiros, frequentemente assediados e assaltados… enfim, há uma porção de coisas que tem contribuído para a gritante decadência do mais demandado dos serviços públicos. Cada um dos itens até poderia ser resolvido se houvesse vontade e competência das autoridades que mandam no setor – mas sempre faltará uma visão de conjunto que se situa muito mais no plano social.

De fato, ninguém ainda deu a devida importância para uma equação que precisa ser resolvida. Têm de ser combinados inúmeros fatores:

• o transporte é essencial para toda a população, incluindo para a parcela que anda de carro ou que não depende de ônibus para seus deslocamentos;

• as empresas prestadoras do serviço, no regime capitalista que o país adota, precisam ser remuneradas a contento, sem exageros;

• o poder público não tem condições de absorver todos os custos diretos, nem de complementar o que falta mediante subsídios;

• a economia simplesmente para se o transporte para.

Custos devem ser divididos por toda a sociedade

Logo, se é de interesse de todos os segmentos que Curitiba e região metropolitana tenham um transporte público digno, eficiente e barato, a equação se resolve com a participação de toda a sociedade – como se faz nas mais desenvolvidas cidades da Europa, por exemplo, onde todos os entes envolvidos contribuem para fundos que financiam o sistema.

Um exemplo concreto: o custo anual do transporte curitibano é de R$ 1 bilhão por ano para uma cidade de quase 2 milhões de habitantes. Se, em média, cada cidadão contribuísse – por hipótese, mas proporcionalmente à renda – com R$ 500,00 ao ano, o custo estaria coberto. E, consequentemente, o transporte seria “gratuito” para todos.

Utopia? Nem tanto, principalmente quando se sabe que é assim que funciona (muito bem) o transporte coletivo de outras cidades do mundo. Trata-se de uma questão a ser debatida e equacionada por toda a sociedade, principalmente entre o empresariado, maior interessado em não contabilizar prejuízo de R$ 150 milhões por dia de greve, como informa a Associação Comercial do Paraná (ACP) e confirmam as demais entidades do setor produtivo.

Mais preocupado em resolver esta equação do que em brigar por ônibus novos deveria estar o prefeito Rafael Greca e o governador Beto Richa – dois aliados que poderiam colocar suas lideranças a serviço de soluções mais inteligentes, permanentes, sustentáveis e de alcance social muito mais amplo.

4 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela coragem de trazer a público essa situação do transporte coletivo em Curitiba e Região Metropolitana. Eu sou usuário desse tipo de transporte e conheço de perto os problemas. Os gestores públicos que só andam em “busão” durante o período eleitoral não sabem as dificuldades que os passageiros sofrem no dia a dia.

  2. Ninguém tem coragem de tomar as atitudes óbvias e necessárias que o caso requer. Eu contribuiria para sustentar o sistema afim de tornar a passagem gratuita com o maior prazer, desde que as atuais empresas ficassem de fora… A atual situação só vai fazer crescer o transporte clandestino, contribuindo de vez para quebrar o sistema.

  3. E Greca está preocupado em resolver esse problema?. O povo que se exploda!!!! Para exemplificar, Greca queria a verba que estava sendo destinada ao metrô para gastar em outros locais. Povo só é lembrado na hora do voto. Depois todos os esforços são para garantir o lucro guloso de empresários do setor. Sabemos que um empresário deve ter lucro, mas quando as contas só são repassadas para os contribuintes, algo está errado. Se ditos empresários não pretendem diminuir seus lucros, então devem ser afastados dessa “prestação” de serviços. O lucro deve ser bom, pois nenhum deles larga o osso. E voltar àquela política do Requião, com os onibus do povo, é populismo puro e sabemos bem onde vai dar. Parece que a única solução será eleger candidatos realmente preocupados com sua cidade e seu povo, e que tragam soluções inteligentes. Mas inteligência é algo que não existe no cérebro dessa classe, pois a única coisa que sabem é elevar impostos. Assim qualquer um pode ser gestor.

  4. O sistema público como entidade econômica tem sido um desastre, principalmente, quando os interesses são direcionados por caminhos suspeitos. Recentemente a imprensa divulgou operações ligados a fraudes de licitações do transporte de massa. Isto deixa evidente que a seiva desta planta está sendo sugada por vermes especializados em apoderar deste mercado.
    O ideal seria todas as empresas: comércio, industria, serviços e a população aderirem à aquisição de quotas, e o gerenciamento do sistema ser aprovado por conselho visando o melhor resultado, buscando: eficiência, transparência e fundamentalmente, melhorias, e jamais, da forma como está nas mãos de grupos que estão nas páginas policias com condutas suspeita.
    A prefeitura é controlada por ciclos eleitorais, um faz, outro desfaz, e os acordos impedem uma fiscalização mais austera, como estamos assistindo a câmara municipal,em sua maioria, covardemente, esquivarem da responsabilidade de retomar a CPI dos transportes, por pressão e chantagem do executivo, que os tem como reféns através de cargos comissionados e vantagens que estão em caixas pretas de suas consciências insensíveis.

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