Sarney: “Bolsonaro está apostando o caos”

Sarney: "Bolsonaro está apostando o caos"Aos 89 anos, 70 de ininterrupta atividade política, com a experiência de ter sido governador, deputado, senador e Presidente da República, o ex-presidente José Sarney rompeu o silêncio que vinha se impondo desde antes das eleições de 2018 para dar longa entrevista ao jornal Correio Braziliense, publicada neste domingo (19). Ele se mostra preocupado com o rumos imprevisíveis a que o país está sendo levado pelo governo Bolsonaro.

Segundo Sarney, Bolsonaro governa em meio a um desmonte das instituições e age como que apostando no caos, destruindo utopias sem oferecer nada em troca. Ele não tem maioria parlamentar, os partidos não existem e não há lideranças políticas e, por isso, o Brasil vive uma crise muito grande.

Veja os principais trechos da entrevista em que fala de Bolsonaro, do passado e do futuro do país:

  • Acho que ele está colocando todas as cartas na ameaça do caos (…) O presidente é quem deve se adaptar à cadeira e não a cadeira ao presidente.
  • Bolsonaro está no meio de um furacão. Pela primeira vez, estamos num momento em que é imprevisível. Fratura no Judiciário, no Legislativo e no Executivo. Todas essas estruturas estão trincadas.
  • A política é a arte do possível. Eu acho que tem que se lidar com realidades, e a realidade atual é que o presidente não tem maioria consolidada dentro do Congresso, nem nós temos hoje partidos, nem lideranças políticas, e vivemos uma crise muito grande.
  • O Brasil vive uma crise sem partidos, porque quando temos 60 partidos, entramos na lei do Montesquieu, que diz que quando temos muitos partidos, não se tem nenhum.
  • Os ingleses levaram 700 anos para construir esse sistema atual em que vivemos, da democracia representativa, dos Três Poderes, cada um controlando o outro. O Brasil acrescentou mais um poder, destruindo e desestabilizando todos os três: o Ministério Público.
  • Todo dia se dá uma solução, uma visão escatológica do fim do mundo, em face da reforma da Previdência, sem se oferecer outras perspectivas de esperança. Quando se mata as utopias, é difícil que se sustentem as expectativas do país somente com uma reforma [da previdência].
  • As perspectivas que temos e que estão sendo construídas nos levam a esperar, lá na frente, um impasse grande, que pode ser a pequeno, a médio ou a longo prazo, mas a verdade é que ele vai ocorrer.
  • A Constituição de 1988 criou todas as condições para levarmos o Brasil a essa situação que estamos vivendo. Ela (a Constituição) é híbrida, é parlamentarista e presidencialista, deu ao Parlamento poderes executivos e deu ao Executivo poderes parlamentares, com as medidas provisórias que fez. E o Parlamento precisa aprovar todas as medidas que o Executivo tem que tomar.
  • Pela primeira vez, estamos em um momento que é imprevisível, é preciso buscarmos e tirarmos uma medida mágica para resolver isso. Porque as coisas acontecem não porque vão acontecer, mas porque são levadas por um conjunto de fatores, que levam tempo para acontecer e chegam a essa situação, que nós vivemos atualmente, com a fratura no Poder Judiciário, no Poder Legislativo e no Poder Executivo.
  • [O maior problema] é o do crescimento econômico. Sem crescimento, não resolvemos. Qualquer reforma que seja feita não subsiste. No Plano Cruzado, tivemos superavit na previdência naquele tempo porque a nossa taxa de desemprego era de 2.9% de dezembro, de uma média dos cinco anos de 4.3%. Se tivéssemos hoje 30 milhões de pessoas contribuindo para a Previdência, que hoje estão fora (do mercado formal), não teríamos esse problema que temos.
  • Como avalio esse sistema político? Nem  avalio. Não dá para avaliar porque não existe. Ele foi destroçado.
  • Eu acho que o Bolsonaro está sendo vítima de uma leitura errada que ele fez. Ele achou que, quando ganhasse a eleição, superando essa visão internacional de que o Brasil era um país de esquerdista, porque estava alinhado com a Venezuela, Cuba e outros países socialistas, iria receber dos americanos e da economia internacional um apoio muito grande. […] Foi logo visitar o Trump mostrando essa visão. E, na realidade, o Trump não deu nada. A visão do Trump é nacionalista, América acima de tudo.
  • Não há oposição. Nós estamos em um momento no Brasil em que não temos nada. Até a oposição não existe. 
  • Sem partidos, sem oposição… Vamos ficar no deus-dará. Por isso é que eu disse que o nosso presidente está vivendo no olho do furacão. 
  • Eu acho que nós nos fixamos em um único ponto como se a salvação nacional fosse essa, a reforma da Previdência. Na realidade, nós temos um universo de problemas aí, o país é muito complexo para ficar só na Previdência. A Previdência é uma consequência, não é uma causa. É um efeito.

2 COMENTÁRIOS

  1. Qual o valor da opinião do Sarney nesta conjuntura? O que ele fez, com sua vasta experiência para afastar o Brasil do que ai está? A verdade é que, para alguns, todas as opiniões são válidas, desde de que retire um pedaço de credibilidade do presidente. É um verdadeiro escárnio com o Brasil …

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