(por Ruth Bolognese) – Em política, assim como em família, todo mundo fala mal de todo mundo. Mas é mais ou menos como a traição em grande número dos casamentos: só se rompe mesmo quando é explícita, comprovada e pior ainda, tornada pública.
Mal comparando, é óbvio que o governador Beto Richa tem noção de que é criticado todos os dias por milhares de paranaenses. Sabe, ou intui, pra não baixar demais a auto-estima, que seus aliados, secretários, assessores e auxiliares não mantêm no privado o puxa-saquismo diário que demonstram em público.
O dolorido, no entanto, é ouvir, ou ler, o conteúdo de uma crítica como a fez o procurador-geral de Justiça, Ivonei Sfoggia, tido como aliado, até por ter dado demonstração inequívoca em sua atuação diante da maior operação de combate à corrupção no atual Governo, a Quadro Negro.
Como sabe, numa gravação que se estendeu por mais de uma hora, diante de um grupo de promotores e procuradores, Ivonei Sfoggia fez comentários nada republicanos, que, num resumo rápido poderiam ser colocadas assim: o governador Beto Richa nada conhece sobre a administração de sua própria gestão, não sabe reunir uma equipe competente de secretários, tem medo de perder o foro privilegiado e nem consegue identificar quando um subordinado está lhe enrolando.
Os comentários – que o procurador-geral não negou em nenhum momento – teriam magoado o governador a tal ponto que a recondução dele ao cargo, mesmo com 85% dos votos dos colegas de todo o Paraná, só saiu hoje.
Mas a opção de Beto por engolir um sapo desse tamanho é de foro, tanto íntimo como privilegiado. O procurador falante, Ivonir Sfoggia, salvou-o de uma notificação para explicar o desvio de mais de R$ 20 milhões dos recursos das escolas públicas paranaenses que teriam ido parar no caixa da campanha de reeleição, em 2014.
E desagradar o Ministério Público às vésperas de perder o foro privilegiado ao deixar o governo seria risco alto demais diante de um desassossego de momento.
Ser notificado para falar sobre o desvio de dinheiro na Operação Quadro Negro poderia ter lhe custado a campanha para o Senado, que pretende disputar. E a primeira não notificação a gente nunca esquece.
Quem conhece de perto o Charles Albert, sabe que o procurador falou exatamente o que é o piá de prédio.
Conheço a figura desde pequeno, quando o saudoso José Richa junto com o Maurício Fruet frequentavam a chácara do meu pai para tomar vinho em Colombo.