Conheci o jurista René Dotti como meu professor de Direito Penal no curso de Direito (não concluído) da Universidade Federal do Paraná, idos de 1968. Ao mesmo tempo, como repórter da Gazeta do Povo, acompanhava com admiração a veemência e a coragem com que defendia presos políticos, acusados de subversão, na Auditoria da Justiça Militar, que funcionava no Quartel General da 5.ª DI na praça Rui Barbosa, onde hoje é a Rua da Cidadania da Matriz. Enfrentava os juízes de farda e impunha respeito à beca de advogado que usava.
Tantos anos depois, vejo o professor René com a mesma coragem e veemência, entrando para a história como um dos mais brilhantes defensores da liberdade de opinião e de imprensa – causas, aliás, em que se recusa a receber honorários. Para ele, têm mais valia as oportunidades de exercer suas convicções jurídicas e pessoais quando se trata de preservar valores democráticos tão importantes quanto a liberdade de pensar e de se expressar, direito de qualquer cidadão, ofício sobretudo de nós, jornalistas.
Reunidos tão somente estes poucos (mas valiosos) motivos, registro minha satisfação de ver o nome do professor René Ariel Dotti citado na sentença que o juiz Sérgio Moro pronunciou condenando Lula a nove anos e meio de prisão. O magistrado referia-se à enérgica intervenção de Dotti exigindo respeito do advogado do ex-presidente, que a toda hora interferia no interrogatório com desrespeito às normas.
Não é preciso entrar no mérito da sentença de Sergio Moro, transformada em peça de aproveitamento político por todos os lados e de acordo com as conveniências de cada qual. Mas ela dá a oportunidade de relembrar o momento em que o professor René Dotti faz a sua indignada intervenção. Veja o vídeo.