A Rafael, uma carta celestial

Prezado devoto Rafael. Sinto-me lisonjeada quando você cita o meu nome em seus discursos hiperbólicos. Mas francamente, acho que você usa meu santo nome em vão com uma frequência atroz. Não sofra, meu caro devoto. Você é político. Os políticos são assim desde quando o princípio era o verbo. Como você é um homem de fé  dar-lhe-ei uma penitência. Procure o padre da igreja do Rosário – que fica bem em frente ao chafariz da cabeça-sem-mula que você inventou – e confesse seus pecadilhos. Comece com os pequenos. A blasfêmia, que é usar santos nomes em profusão. Certamente o padre vai recomendar algumas aves-marias e pais-nossos. Mas reze em silencio, para não parecer que você está em campanha antecipada junto aos eleitores católicos… reze na sua chácara. Pode ser defronte aquelas inúmeras imagens barrocas que você coleciona e guarda com tanto carinho… Depois confesse os pecados mais graves, como exagerar nas promessas (eu sei, eu sei, políticos não mentem, apenas exageram um pouco) . Prometer uma gestão voltada aos necessitados e não cumprir é um pecado exagerado. Passagens mais caras,desmonte do setor social, política de higienização, confisco da previdência dos servidores… sei lá…não parece muito cristão. Para isso exijo mais contrição. Sei que você abraçou a religião Católica Apostólica Romana e se portará como um penitente zeloso.                                                                  Eu dou minha benção.
PS. Faça discursos menos prosopopeicos. A palavra prosopopeia tem origem no grego prósopon, que significa “pessoa”, “face”, “rosto”. A união desse termo com poeio, que quer dizer “finjo”, deu origem a prosopopeia, palavra que nasceu com o significado de “rosto fingido”, “máscara”. A princípio, o termo era usado para designar o fingimento com que um orador representava várias pessoas, entre elas pessoas ausentes, falecidas e até mesmo animais e objetos inanimados.

  • Ao contrário do que aconteceu com as cartas de Fátima, escritas pela irmã Lúcia (uma das pastorinhas que testemunharam a aparição em Portugal) e que levaram décadas para serem reveladas, a correspondência da Virgem ao  prefeito de Curitiba  foi divulgada com a permissão da Santa Sé, sem maiores restrições. Resultado dos ventos de modernidade e transparência que sopram no Vaticano sob o papado de Francisco I.
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