Os movimentos grevistas no Brasil: sem pai, nem mãe

(por Ruth Bolognese) – Quando aquelas multidões invadiram as ruas das capitais, quase botaram fogo no Itamaraty em Brasilia, no governo Dilma Rousseff, o Brasil ficou perplexo com o volume de gente que aderiu, a violência dos black blocks e a ausência no processo dos velhos suspeitos de sempre – sindicalistas e esquerdistas. Era uma sensação de fim de mundo, que acabou levando ao impeachment e tudo isso que aí está.

A mesma sensação atinge o país agora. Os caminhoneiros dão prova de uma organização invejável e uma resistência férrea, além da conta. Não houve estrutura de acampamentos, apenas avisos de paralisação anunciados timidamente um mês antes. E aí os caminhoneiros pararam e pronto: não se sabe até que ponto, se comandados por grandes empresas transportadoras, ou por aquele bigodudo de fala mansa, José Fonseca Lopes, da Associação Brasileira de Caminhoneiros. De novo, sem esquerdistas ou sindicalistas no comando.

O último remanescente das grandes paralisações do ABC paulista, ainda na década de 80, o barbudo Luiz Inácio da Silva, virou presidente da República e está hoje numa cela da Polícia Federal em Curitiba. Depois dele, nenhum outro líder com o poder de mobilizar as massas nessas proporções se projetou no Brasil.

Firma-se no Brasil, portanto, essa forma de paralisação quase espontânea, imprevisível, de poder arrebatador, mas sem uma, ou mais, lideranças notórias no comando. Um tsunami social, que evoca atitudes extremadas para manter a paz, como as Forças Armadas, por exemplo.

No frigir dos ovos, um perigo permanente para a democracia.

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