O tráfico no Rio é uma lição de empreendedorismo

(por Ney Hamilton Michaud*) – Perdoem o argumento cínico, mas a questão da violência no Rio de Janeiro – e de resto nas grandes cidades – está ligada ao espírito empreendedor do tráfico de drogas. Os traficantes que dominam favelas e comunidades nada mais fazem do que um grande esforço para atender seus clientes.

Como as grandes redes de lojas ou supermercados eles, os traficantes, brigam com unhas, dentes e fuzis de grosso calibre, para manter seus clientes e roubar os compradores de outros grupos do tráfico.

Essa GUERRA, cantada em verso e prosa pela mídia, só existe por conta de uma velha lei de mercado: a da oferta e da procura. Se o tráfico no Rio exibe uma musculatura capaz de peitar BOPE, Marinha, Aeronáutica, Polícia Civil, Polícia Federal, é porque existe um financiamento sólido das operações de compra da droga.É porque existe um bem azeitado comércio de armas de grosso calibre.

E de onde vem esse dinheiro? É uma pergunta singela que as autoridades parecem não gostar de fazer. Quem financia o tráfico? Não é de hoje que as polícias do mundo todo usam o velho axioma “follow the money” (siga o dinheiro) para desvendar crimes de toda espécie. De crimes financeiros, de colarinho branco, de terrorismo. No Brasil parece que esta pergunta é um tabu.

As respostas não são simples. Mas não exigem QI muito elevado também. Certamente os consumidores não são os moradores das favelas e comunidades pobres. Eles são vítimas nesse processo. E também são o escudo dos traficantes. Seria a classe média-alta? Empresários com contas bancárias impressionantes? Artistas famosos? Atletas com salários astronômicos? Políticos ciosos de seus compromissos sociais e morais? Jornalistas estelares?

As possibilidades são muitas. Mas recaem sempre na questão do poder aquisitivo. O volume de dinheiro movimentado pelo tráfico só pode ser explicado por dois aspectos: o universo de consumidores e a quantia de dinheiro que eles têm. Não é incrível como as autoridades competentes fazem questão de esquecer estes dados singelos?

Enquanto as respostas forem o aumento de tropas nas favelas, o filme de terror continuará em cartaz.

Outra pergunta singela: de onde vêm as armas que sustentam o domínio territorial dos traficantes? Adianta sitiar os morros se as fronteiras continuam terra sem lei, sem exército, sem vigilância? O problema é sério e não é exclusividade do Brasil. Mas enquanto não se combater o financiamento do tráfico, será uma interminável tarefa de enxugar gelo.

Ao invés de um general, que tal chamar um consultor do SEBRAE ou um economista para falar de empreendedorismo e financiamento de atividades?

(*) Ney Hamilton Michaud é jornalista

1 COMENTÁRIO

  1. Artigo irretocável, como a postagem anterior deste blog O Rio e o Paraná. O que existe por trás dessas medidas “extremas” dos governantes se elas não visam, à evidência, atingir a fonte dos problemas nacionais? Fontes essas, como do tráfico, notoriamente conhecidas? Incompetência? Tergiversação? Ou vontade pensada de não resolver porque as “forças ocultas” de comprometimento ou financiamento de corruptos e corruptores não permitem? Nesse contexto as forças armadas estarão enxugando gelo e nada mais. Ora, a gravidade da questão da criminalidade já está, como a corrupção estabelecida pelos governos petistas, aí nível de criminalidade lesa-pátria pelo nível de prejuízo social!

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