O que é pior: fazer piada sobre o governo ou levá-lo a sério?

É preocupante a prodigalidade com que o recém-inaugurado Jair Bolsonaro tem produzido motivos para o riso. Nunca perder o humor é necessário, mas também é perigoso – tanto para quem dá os motivos para piadas quanto para quem se dedica a fazer oposição na base da galhofa.

Isto é o que diz, em resumo, artigo do cientista político Alexandre Arbex, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública federal vinculada ao Ministério do Planejamento, publicado nesta sexta-feira (4) e sua página no Facebook. Leia alguns trechos:

Anos atrás, respondendo a jornalistas do Pasquim, Saramago declarou que o humor político, indispensável para testar os limites da liberdade sob governos autoritários, era, apesar disso, uma tática insuficiente de contestação do poder. Um dos entrevistadores discordou citando uma frase de Eça de Queiroz – basta dar a volta com duas ou três risadas em torno de uma instituição para fazê-la desmoronar –, mas Saramago objetou que a estratégia de retratar pelas lentes do ridículo uma autoridade também poderia favorecê-la: suavizando os males que pretende denunciar, o riso desarmaria a crítica antes de estabelecê-la, porque uma realidade da qual se pode rir ainda é, em certo sentido, tolerável.

[…]

O personagem que bolsonaro encarna tornou-se tão caricato que passou a parecer genuinamente sincero. “Dizer o que pensa” não é o mesmo que “dizer a verdade”, mas, como a franqueza, autêntica ou simulada, de quem fala é frequentemente reconhecida como um sinal de veracidade, o estilo enérgico e canastrão do presidente rendeu-lhe uma sólida reputação de honesto. De resto, a ignorância, que bolsonaro pratica com oportunismo e ostenta como uma virtude cristã, o aparente desconforto dele em ocasiões solenes e formais, a impaciência grosseira com que ele se porta nas entrevistas, tudo isso é, para grande parte da população, um fator de empatia, jamais um motivo de riso.

[…]

Mas há outra razão para levar bolsonaro a sério: sua paranóia macarthista é um método de propaganda. Quando, na posse, o ex-capitão assume o compromisso de libertar o Brasil do socialismo, ele certamente sabe que jamais houve nada remotamente parecido com uma experiência socialista no país e que, portanto, não precisa preocupar-se em desestatizar a economia, devolver o sistema bancários às corporações financeiras, desnacionalizar as empresas estrangeiras que dominam o mercado de telefonia ou a indústria farmacêutica e coisas do estilo. Sua retórica de guerra ao socialismo serve, agora, para manter a coesão de sua base e adensar a campanha ideológica pré-eleitoral, cujo eixo segue sendo a construção do inimigo interno. É bastante eficaz, mesmo sendo engraçado, o mito do herói que promete derrotar o monstro fantasma que ameaça seus protegidos e que só ele é capaz de enxergar.

5 COMENTÁRIOS

  1. O comentaro de cima carece de ajuda profissional…..e parece que precisa urgentemente ler outros jornais…ahhh… a sua rede social tambem deve ser bastante contaminada…..

  2. Acho precedente perigoso dirigir-se a outros leitores. Todavia, este João Cláudio deve Assistir as aulas, se não é possível, ler de trás pra frente a coluna do prof de direito da USP Conrado Hübner mendes

    Talvez um pouco de estudo lhe salve dessa sua situação alucinante , pois o cego mesmo e o que não quer ver

  3. O autor desse texto é claramente um ressentido. Um fanfarrão do qual está na amargura porque o circo não lha dá mais alegria. O que restou a ele? Apontar sua profunda mágoa ao fim daquilo que ele estranhamente considerava como oportuno ao país: o apoio às ditaduras assassinas em termos ideológicos e financeiros; o decreto sem escrúpulo de Dilma Roussef para criar conselhos populares que decidem sobre questoes de conflitos territoriais; o vultuoso enriquecimento do Brahma; o socialista milionário em parceria com seus maravilhosos empreiteiros da elite corrupta (que ele dizia odiar); a entrega do estado como casamata ao quadrilheiro – cumpanheiro de dilma… O autor desse texto é um humorista. E todo humorista tem seu mundo bisonho particular. Todo bom humorista precisa de um pouco de alucinação. No caso desse coitado, os remédios contra o ódio ao Bolsonaro já nao fazem mais efeito. Coitado, morrerá de cirrose. rs

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui