O incrível deputado que encolheu

(por Ruth Bolognese) –  Na votação mais importante do Congresso Nacional desse ano, o desfecho do governo Temer, o deputado Osmar Serraglio não apareceu. Para quem está no quinto mandato por conta de voto, a ausência soa como o Zezé di Camargo retirar as cordas vocais. Mas é pior: além do descaso para com o símbolo da representação democrática, foi  vingancinha inepta e inútil de Serraglio contra o governo do qual fez parte. Mais um ato de uma trajetória que começou bem e se esborrachou na maionese.

Gaúcho de Erechim, 68 anos, o deputado pela região de Umuarama se projetou na cena política brasileira pela porta da frente. Foi relator da famosa CPI dos Correios, ao lado do ex-senador petista, Delcídio Amaral e do nosso mui conhecido Gustavo Fruet. Os três juntos desvendaram os primeiros pagamentos fora do holerite feitos pelo governo do PT aos colegas da Casa. E deram os primeiros números do CEP de um certo Lava Jato de Brasília a um juiz desconhecido da primeira instância do Paraná,  de nome Sérgio Moro.

Em 2005, o ano da CPI dos Correios, os três foram mais abordados e reverenciados por jornalistas nos corredores da Câmara Federal do que o Rei em transatlântico de turistas-manicure. Serraglio, o mais velho,  mestre em Direito pela PUC-SP,  passou a ser chamado de Jurista, uma honraria que pode levar o sujeito tanto para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), como para o Senado, governo do estado ou ministério da Justiça.

Por conta de tantas glórias, o nome Serraglio  era um símbolo de (rara)  reserva moral dentro do escrachado PMDB  nacional. Subiu mais um pouco e chegou a presidente da cobiçada CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, cargo de tão alta relevância quanto de prestígio dentro e fora do Congresso.

Até que um dia, para surpresa de todo mundo, o deputado Osmar Serraglio foi apontado como aliado de ninguém mais ninguém menos do que o presidente da Câmara, o frio, o calculista, marido da jornalista de olhos esbugalhados, hóspede de hotéis 7 estrelas de Dubai e hoje faxineiro do Centro Médico Prisional de São José dos Pinhais, Eduardo Cunha. Mas como? A “intriga” da oposição foi pouco perto do fato, incontestável, de que Serraglio favoreceu mesmo, na CCJ, o então presidente da Câmara, enrolado até o pescoço no usufrutuário de dólares roubados. E até foi contra a cassação dele.

Daí para acabar ministro da Justiça de Michel Temer foi um pulo destrambelhado e para ser flagrado chamando o comandante  da gangue da Carne Fraca, o paranaense Daniel Gonçalves Filho, de “Grande Chefe” nas gravações da Polícia Federal, nem pulo foi: apenas o desfecho de um envolvimento anunciado. E daí para ser humilhado, o último a saber, da exoneração do cargo de Ministro depois de apenas 3 meses, por um governo sem eira nem beira, um fato lamentável.

No deserto de gente decente, como é a politica nos nossos dias, a trajetória de Osmar Serraglio não está ajudando. Ao contrário, confirma que políticos em geral são como os maridos-galinha. Por mais que passem anos e anos “walking on the line”, mais dia menos dia, a gente descobre que ele anda piscando pra vizinha. E aí é apenas a ponta do Iceberg.

Foi o que aconteceu quando o senador dos R$ 2 milhões, Aécio Neves, num momento de puro “Aécio Neves”, referiu-se a Serraglio como um…bem, uma definição pouco ortodoxa, não recomendável a leitores de fino trato. E alguns paranaenses até pensaram em defendê-lo. Era apenas a ponta do iceberg.

O cheiro do pão assado invadiu a cozinha. Hora de desligar o forno.

 

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