(por Ruth Bolognese) – Naquele fatídico dia 29 de Abril eu estava dentro do gabinete da vice-governadora, Cida Borghetti, onde era assessora. Assim como estava, como repórter, no dia em que os cavalos da PM investiram contra os professores no governo Alvaro Dias. Testemunha ocular, portanto.
O aparato montado pelo então secretário de Segurança, delegado Francischini, um personagem que faria sucesso absoluto como colega de filme do Rambo, foi o maior já visto nas imediações do Palácio Iguaçu, inclusive no governo Alvaro Dias. Tão assustador que até um camburão foi necessário para que as Excelências entrassem na Casa do Povo e votassem o pacote de ajuste fiscal do governo Richa. Um vexame difícil de superar em termos de sabugismo e covardia.
Os professores estavam a fim de briga? Estavam, sim. Queriam invadir o Palácio, a Prefeitura, a Assembleia, subir nas árvores, balançar o camburão das Excelências? Sim. Havia uma situação de perigo para os transeuntes e as Excelências que habitam o Centro Cívico? Claro que havia. Ameaçavam com pedras e paus? Óbvio que sim.
Naquele momento de tensão, o governador, que jurou cumprir a Constituição, onde está explícita a função de proteger e defender todos os paranaenses, tomou um lado, o da polícia. Diante de professores dispostos a tudo – mas armados apenas com paus, pedras e muita ousadia – optou pela força infinitamente superior dos comandados por Francischini. E deu a ordem.
As cenas de ensanguentados, mordidos por cães pastores, machucados e humilhados, todo o Paraná conhece. O que certamente levou o governador Beto Richa ao sofrimento, e não há razão para suspeitar que seja falso, foi a de ter protegido apenas um lado do conflito. E de ter rejeitado o lado mais vulnerável, que, afinal, também dependia da decisão dele para não enfrentar PMs armados até os dentes.
O governador alegou que tinha que proteger o patrimônio público da depredação, como prevê também a Constituição. Mas esqueceu que os homens e mulheres que estavam lá eram, também, paranaenses. Quem sofreu as consequências na pele do abandono e da indiferença, foram os 200 feridos. E isso, por mais que a Justiça dê razão para o lado da força, nem o governador, nem os professores vão esquecer aquele 29 de Abril. Por culpa e por rejeição.
Se há um senão, é porque não se fez justiça ao caso.