Museu do Holocausto repudia declarações de empresária curitibana que sugere marcar as pessoas em isolamento social

O Museu do Holocausto de Curitiba emitiu nota de repúdio contra a empresária de Curitiba Cristiane Deyse Oppitz  que sugeriu que sejam marcadas com “fita vermelha” as pessoas em isolamento social por causa da pandemia do coronavíus covid-19.A sugestão foi feita em vídeo postado no dia 23 de março nas redes sociais.

Segundo Cristiane, “as pessoas que não querem sair do confinamento, que não querem trabalhar, fazer a economia girar porque, segundo elas, o mais importante é a vida, marquem ou com um laço vermelho na porta ou quando for sair coloque uma fita vermelha. Aí nós vamos identificar você como pessoa que não quer fazer parte deste grupo que quer trabalhar”.

Trechos da nota de repúdio

Na nota intitulada “O perigo das analogias implícitas”,  o Museu do Holocausto diz que  “a identificação de pessoas que ela enxerga como inimigos sociais – os quais, vale frisar, ao optar pelo isolamento social em razão da pandemia de Covid-19, estão seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O uso de “fitas vermelhas” ou afins para identificar cidadãos contrários ao seu ponto de vista, independente do contexto, guarda similaridade com os decretos que impunham aidentificação dos judeus por meio de insígnias. Marcar o outro, quem quer que ele seja, é uma forma de estigmatizar, humilhar e retirar da sociedade (e, consequentemente, de seus direitos associados) estas pessoas. No caso dos decretos nazistas, foi um passo importante que levou ao posterior extermínio da população judaica”.

E continua: “Em segundo lugar, aprofundando em seu discurso, destacamos a questão do trabalho e da contribuição econômica como fator determinante de quem é o melhor cidadão. A lógica de que os direitos estariam condicionados ao trabalho faz parte de uma concepção segregacionista, que atingiu, nos primórdios nazistas, as pessoas com deficiência. O Aktion T4, programa de eugenia da Alemanha nazista em que médicos assassinaram centenas de pessoas consideradas por eles como ‘ncuravelmente doentes’, teve como uma de suas “justificativas” a noção de que a sociedade não deveria gastar recursos com aqueles que não contribuem economicamente para ela.Exemplo disto é um material de propaganda de 1938, em que, ao mostrar a foto de uma pessoa com deficiência, afirma que “60.000 Reichsmark é o que esta pessoa que sofre de um defeito hereditário custa a comunidade do Povo durante a sua vida. Cidadão companheiro, esse é o seu dinheiro também.”

A nota termina dizendo que, “finalmente, não apenas a estigmatização e humilhação, mas também a revogação dos seus direitos civis – no caso, atingindo aquelesque não compactuam com uma opinião ou posição – viola os princípios básicos de um dos maiores legados da memória da Shoá: a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este conceito está calcado na ideia de que certos direitos básicos não estão atrelados a qualquer tipo de mérito ou condição. Condicionar o acesso a direitos básicos, como assistênciamédica, à tomada de determinada atitude – no caso, a contribuição econômica via trabalho, violando o isolamento social – é negar não este ou aquele direito, mas a própria concepção de direitos humanos. O nazismo não se iniciou com campos de extermínio, nem mesmo com suásticas espalhadas pelas ruas. Para que isso fosse possível, ideias e concepções deturpadas de humanidade eram divulgadas. Encará-las como normais e aceitáveis é um perigoso flerte com noções que tanto mal causaram à humanidade. Analogias implícitas são perigosas e precisam ser combatidas. Por isso, o Museu do Holocausto de Curitiba, diante do seu papel social, repudia veementemente as declarações de Cristiane Deyse Oppitz”.

1 COMENTÁRIO

  1. O empresariado paranaense marcando forte presença na vanguarda da elite do atraso. Para reforçar a tese adotam as teorias nazistas, sem no entanto explicitar a simbologia daquela ideologia repugnante.

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