Mourão, o “milico”, na Presidência da República

“Pode me chamar de milico mesmo”, disse o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, ao ser perguntado pelo repórter do jornal Correio Braziliense sobre como preferia ser tratado – se como general ou como vice-presidente.

Na próxima segunda-feira, o general Hamilton Mourão, 65 anos, assume interinamente a Presidência da República. Será o comandante do país por cinco dias, até a sexta-feira, quando o titular do cargo, Jair Bolsonaro, voltará do Fórum Econômico Mundial, em Davos (SUI). “Será tranquilo. Mantenham-se as ordens em vigor. Isso é clássico”, disse o vice, que deve despachar do próprio gabinete, na sala 104 do Anexo II do Palácio do Planalto.

[Dia 28, três dias após voltar de Davos, Bolsonaro será submetido à cirurgia para retirada da bolsa de colostomia. Mourão deve ocupar novamente a Presidência por mais alguns dias].

Até chegar ao gabinete, é preciso, por indicação dos assessores, passar por duas salas de descompressão, uma formalidade quebrada por Mourão logo na primeira pergunta sobre como os repórteres poderiam se referir a ele: vice-presidente ou general? “Podem me chamar de milico, como quiserem.”

O general nega um protagonismo no Planalto e garante estar focado nas atribuições do cargo, como relações bilaterais. “Eu considero a campanha um período muito mais complicado que agora. Agora, estou em uma posição mais confortável”, afirmou. “Muitas vezes, aquilo que você pode falar de uma forma mais livre, o candidato não pode. Até entender isso, levei umas cacetadas.”

Na entrevista ao Correio Braziliense Mourão falou sobre a previdência dos militares, um ponto que vem sendo questionado nas discussões sobre a reforma que o governo prepara para apresentar ao Congresso. Disse ele:

Finalmente, os militares serão atingidos pela reforma da Previdência?
Não quero ultrapassar meus limites, já que quem fala pelos militares é o ministro da Defesa e o próprio presidente, por ter pertencido ao grupo dos militares. Mas eu acho que alguns conceitos têm de ficar bem compreendidos. Independentemente de achar que o conceito é bom ou não, em primeiro lugar, o grupo militar não tem sistema previdenciário. Você vai à Constituição e está lá: o regime geral e o regime próprio. Não existe regime previdenciário que abarque os militares. E o sistema clássico de Previdência, como funciona? Você desconta, e o seu patrão desconta, formando um bolo de dinheiro e, à medida que você se aposenta, recebe parte de acordo com o teto estabelecido, só que, com o passar do tempo, isso se tornou uma pirâmide financeira. Ou seja, quem chegava na frente recebia, e o restante não recebe, caso continue dessa forma. Voltando para o militar, ele não tem (Previdência), ele desconta para a pensão. O que é o sistema de pensão? O cara entrou em guerra, morreu, a viúva recebia a pensão. Essa era a formulação clássica. Aí, têm histórias perdidas no tempo de que os recursos foram jogados todos na Caixa e no Tesouro, um passado nebuloso. Esse é o primeiro aspecto a ser colocado. Jamais vou apontar que a vida do militar é distinta, outros argumentos que o pessoal coloca. Não é isso. Vamos para a Medida Provisória 2.215, que regula nosso pagamento. Foi uma reforma previdenciária em cima dos militares, que colocou os ganhos, as pensões e as aposentadorias menores a cada ano que passa. Então, ao se perder a gratificação por tempo de serviço, licença especial ou promoção a posto acima, você diminui o salário. Para se ter ideia, veja o caso de um coronel. O coronel que passou para a reserva em 2000, ganhava R$ 18 mil brutos. O coronel que passou para a reserva agora ganha R$ 15 mil, e aquele que passará em 2030, se perdurar os 30 anos de serviço, ganhará R$ 13 mil.

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