Livro mostra roteiro da transformação urbana de Curitiba

Por Júlio Zaruch – O que aconteceu com aquela Curitiba de ares ainda provincianos de meio século atrás, com pouco mais de 600 mil habitantes, que, de repente, na virada de uma nova década – 1971 – deu um salto de qualidade, transformando-se em referência em planejamento urbano e chamando a atenção do país e do mundo?

Na verdade, não foi tão de repente. As coisas começaram a acontecer seis anos antes, quando da definição do Plano Diretor da cidade e, na sequência, da criação do Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), ao tempo do prefeito Ivo Arzua Pereira.

Só que nesse período, as coisas ficaram meio adormecidas. Mas aquele grupo de jovens arquitetos, engenheiros, economistas, sociólogos, ambientalistas que havia participado da criação do Ippuc continuava a trabalhar, a produzir projetos inspirados nas diretrizes do plano.

Livro mostra roteiro da transformação urbana de CuritibaO arquiteto Geraldo Pougy, carioca, 65 anos, um estudioso em planejamento urbano, design de políticas públicas e inovação em governos, fez um profundo mergulho de cinco anos no tema da transformação urbana de Curitiba.

Pesquisou documentos, livros, projetos, colheu depoimentos de arquitetos, urbanistas, historiadores, escritores, jornalistas, ouviu personagens do que chama de Grupo de Curitiba – o responsável pelo up grade da capital paranaense – e colocou tudo no papel.

E o fez com competência. Neste 2021, acaba de lançar “Curitiba: Urbanismo Essencial”, livro de 184 páginas, editado pela Insight Editora, materializado através de campanha de financiamento coletivo.

A capa mostra a construção do calçadão da rua 15 de Novembro e a chamada convoca: “Descubra como trabalharam os profissionais que, a partir de 1971, empreenderam a transformação urbana que marcou o urbanismo e botou Curitiba no mapa do mundo”.

A obra pode ser considerada como um manual de procedimentos para administradores públicos. Diz Pougy na introdução: “O objetivo deste livro é apresentar a forma de trabalhar adotada por esse grupo de arquitetos e funcionários públicos – que vou chamar de Grupo de Curitiba – que empreendeu uma das mais notáveis transformações urbanas do mundo no final do século 20. O interesse da pesquisa não está, portanto, nas obras e intervenções que realizaram, tema já bastante estudado. O interesse está na forma como administraram a prefeitura de Curitiba nas sucessivas administrações em que alguém do grupo ocupou a cadeira de prefeito”.

“Curitiba: Urbanismo Essencial” é dividido em quatro linhas gerais – A vontade política, A visão solidária, A visão estratégica e Praxis curitibana -, que englobam 23 capítulos curtos, de leitura fácil, didática, fluente, que remetem o leitor a uma viagem no tempo: ao processo de criação dos ônibus expressos, das estruturais, do sistema trinário, do calçadão da rua 15, o primeiro do Brasil, aos primeiros grandes parques, a obras de saneamento que primam pela simplicidade mas que foram essenciais para garantir a qualidade de vida de Curitiba, o programa Lixo que não é lixo, a tarifa social do transporte público e outros mais.

O livro desfila nomes que, sob a liderança do arquiteto Jaime Lerner, feito prefeito da cidade pela primeira vez em março de 1971 – ele foi da equipe que criou o Ippuc, em 1966, e o presidiu em 1968/1969 – ajudaram a construir os novos tempos. Lá estão Carlos Ceneviva, Rafael Dely, Lubomir Ficinski, Manoel Coelho, Nicolau Kluppel, Francisca (Fanchette) Maria Rischbieter (todos já encantados), ao lado de Alberto Paranhos, Omar Akel, Abrão Assad, Zélia Passos, Euclides Rovani, Alan Cannel, Osvaldo Navarro, Eloi Kochanny, Dúlcia Auriquio, Cassio Taniguchi, Alceu Carnieri, Hitoshi Nakamura, entre outros.

E expõe a opinião de especialistas, que falam da importância do planejamento ter tido continuidade ao longo de vários prefeitos que sucederam Lerner, que cumpriu três mandatos (1971-1975, 1979-1982 e 1989-1992).

Mas Pougy não se limita apenas aos elogios do que aconteceu com o trabalho do Grupo de Curitiba: registra também críticas, e até algumas autocríticas de quem participou do processo e procurou corrigir procedimentos em tempo.

Destaca ainda: “Ao final, espero que este livro colabore para desmistificar a experiência urbana de Curitiba, que inspire novos grupos de empreendedores urbanistas e que contribua para o conhecimento tão necessário para planejar e administrar nossas cidades”.

O arquiteto e urbanista Jaime Lerner comenta a obra: “O melhor ensaio que já li sobre Curitiba. Grande livro!”

Geraldo Pougy foi presidente da Fundação Cultural de Curitiba na primeira gestão de Rafael Greca (1993-1996). Anteriormente, trabalhou no escritório Jaime Lerner Planejamento Urbano por oito anos. Em 1999 foi um dos fundadores do Centro Brasil Design, onde hoje é presidente do Conselho. Participa ainda dos conselhos do Museu Oscar Niemeyer e da Unilivre (Universidade Livre do Meio ambiente). Atualmente, cursa o doutorado em gestão urbana na PUCPR.

“Curitiba: Urbanismo Essencial” pode ser adquirido no site editorainsight.com.br ou na Amazon.

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