(por Ruth Bolognese) – O Jornal do Brasil que instalou uma sucursal no Paraná ainda nos tempos do governo Ney Braga pertencia a uma condessa, Maurina Dunshee de Abranches Pereira Carneiro, com toda a pompa e circunstância. Veio pra cá na onda do Estado rico, território para ser explorado tanto comercialmente como jornalisticamente. Exigia que os repórteres andassem de terno e gravata e as repórteres de cabelos bem arrumados, isso numa época que os “barbudinhos” e a displicência no traje eram uma forma de protesto contra a ditadura que ia se acabando.
Os cariocas tinham duas grandes paixões no Paraná: Jaime Lerner e feijão preto. Qualquer matéria, entrevista, nota, comentário ou novidade do urbanista era pauta de valor. E qualquer chuva ou seca na produção local do feijão preto causava desespero na sede da Avenida Rio Branco.
O número de exemplares do Jornal do Brasil que chegava ao Paraná não era significativo. Mas a mística que cercava o jornal, a influência que exercia em Brasília, arrepiavam os políticos e empresários locais.
Durante 11 anos, primeiro como repórter e depois como correspondente solitária do JB no Paraná, aprendi a dizer muito com poucas palavras escritas. Texto enxuto, como se chama. Mostrei aos cariocas o que eles queriam ver do Paraná, nem sempre tão rico como se acreditava, produtor de alimentos, a Curitiba e suas modernidades no transporte, a política provinciana, o pinhão e os ovos ricamente pintados dos ucranianos, as Pessankas, que eles adoravam.
Criei duas meninas fazendo matérias em casa, na maior parte do tempo. Algumas vezes, deixando o ovo torrar na frigideira para não interromper a entrevista por telefone com alguma autoridade local. Dizer que o JB foi uma escola? Foi, de fato. Mas como um curso de alemão a distância, tanto pela dificuldade de captar o sotaque, como pela incapacidade de entender o significado integral do que o outro lado queria dizer realmente.
Depois a Condessa morreu, o JB caiu nas mãos de empresários interessados em tudo, menos jornalismo, e o Paraná se tornou um ponto longínquo no raio das prioridades imediatas dos novos donos. Agora, faz um giro de 360 graus e tenta voltar pela mágica do papel impresso. Há que se torcer para que dê certo. Emprego à vista. Afinal, continuamos produzindo feijão preto e Jaime Lerner, aos 80, ainda mantém sua mente brilhante.
O “Anel da Integração” é responsável, em parte, pela industrialização e melhoria do comércio no Interior paranaense, em todas as suas macrorregiões. É responsável pelo estancamento do êxodo populacional assoberbado pela geada de 75 e pelo retorno de famílias inteiras que vieram aboletar-se aqui e na RM, às suas velhas e gostosas origens.
Coerente como sempre. Critica, com razão, os pedágios. E tece elogios ao Lerner. Decidam-se.
As concessões, afinal, não devem passar de “um pequeno compromisso com a imperfeição”.
D.Ruth achei que o a Senhora ia deixar passar batido este evento. Consegui comprar um exemplar e foi muito legal depois de tantos anos poder folhear o JB deitado , num domingo, como fiz tantas vezes ao longo da vida.
Ficou bonito o jornal. Ziraldo, Renato Mauricio Prado,e a Tereza Cruvinel no espaço que era do Castelinho…
Provavelmente foi a Senhora então que escreveu uma reportagem que lembro ate hoje sobre a inauguração do Parque Barigui. Fiquei encantado com o que li.
A mente brilhante do Jaime, o maior arquiteto do universo, acaba de mostrar o resultado de seu maior legado, os pedagios do anel de integração do Paraná. Brilhante me$mo.
Bem lembrado.