Eleições de 1990. Apresentaram-se como candidatos o então senador e ex-governador José Richa, o deputado collorido José Carlos Martinez e o ex-prefeito de Curitiba Roberto Requião. As primeiras pesquisas no início da campanha davam números estratosféricos para Richa e prenunciavam que ele venceria a eleição já no primeiro turno – ou, na pior das hipóteses, disputaria o segundo com Martinez, também bem colocado nas sondagens. Na rabeira, com índice que não chegava a dois dígitos, figurava Roberto Requião, aparentemente sem nenhuma chance de chegar perto do Palácio Iguaçu.
Tal qual Jack Estripador, Requião foi por partes. Primeiro concentrou seu poder de fogo para desconstruir o favoritismo absoluto de Richa. Tanto bateu e usando mesmo bordão de combate aos marajás que Fernando Collor tinha usado um ano antes para se eleger presidente, que Requião provocou a queda abrupta do atônito, assustado José Richa. Surpreendido pelas acusações de que gozava de aposentadorias triplas e nababescas, Richa não soube se defender e naufragou.
Uma observação que a história registra: Requião tinha derrotado Jaime Lerner em 1985 na disputa pela prefeitura graças ao apoio do então governador José Richa, que saía de madrugada para percorrer terminais, filas de ônibus, comércios, pedindo votos para seu afilhado. Em 1990, o então governador Alvaro Dias desistiu de concorrer ao Senado e cumpriu o mandato até o último dia para ter condições de apoiar e eleger Roberto Requião, a quem tinha nomeado – olha a ironia! – secretário do Desenvolvimento Urbano. Requião não demorou a romper com ambos após as vitórias.
Voltando ao fio da história: com um José Richa nocauteado e fora da disputa, Requião chegou ao segundo turno para disputar com o novo franco favorito José Carlos Martinez – que imediatamente virou a segunda parte do picadinho de Jack Estripador. Martinez ainda navegava no prestígio que restava ao presidente Collor e as pesquisas o mostravam muito à frente do adversário. Mas isto durou pouco.
O reinício da campanha, agora um contra um, Requião x Martinez, pôs em campo uma deplorável estratégia de campanha de desconstrução: inventou-se a existência de um pistoleiro, o famoso “Ferreirinha”, que teria prestado serviços à família de Oscar Martinez (pai de José Carlos), acusado de grilar terras no Oeste do estado à custa de muito chumbo contra posseiros e índios que habitavam a região. José Carlos era herdeiro, portanto, desse banditismo. A história, confessadamente falsa, “colou”; os eleitores abandonaram Martinez e transferiram seus votos para Requião – que se sagrou pela primeira vez governador do Paraná.
A estratégia vencedora de Requião pode servir de analogia para o sobrinho João Arruda, o candidato do MDB, que ocupa um distante terceiro lugar – assim como o tio em 1990 – na corrida pelo Palácio Iguaçu. Muito à frente dele, franco favorito, se encontra Carlos Ratinho Jr. (PSD), com 42% no Ibope. Na sequência, vem a governadora Cida Borghetti (PP), candidata à reeleição, com 13%. E na rabeira, com 6%, João Arruda (MDB).
Quem viveu a história de 1990 acredita que Arruda dispõe de uma “receita caseira” para crescer. Sem a mesma selvageria empregada pelo tio Roberto, poderia empregá-la contra o favorito Carlos Ratinho, se não para transformá-lo num novo José Richa, precocemente derrotado, no mínimo para não deixar que a eleição no Paraná acabe já no primeiro turno. E poupando, num primeiro momento, o frágil segundo lugar ocupado por Cida.
Arruda tem contra si o tempo, curto demais para inverter a ordem dos fatores. Mas motivos e lições do passado não lhe faltam.
Podem espernear, se unirem, inventarem Ferreirinha, mas nosso Governador será Ratinho Junior 55, aceitem que doe menos.
Rock acertou…ufa! Sem o apadrinhamento, não se elege vereador de Campo Magro.
Povo mal agradecido. O maior favor que o Requião fez aos paranaenses foi nos livrar do Martinez, que na época teve uma das piores votações justamente em Assis Chateubriand, cidade pequena de origem dele. Isso mostrou que a história do Ferreirinha era falsa, mas não inverossímil.
Vai para o segundo turno Arruda, mas é como sempre digo use o nome do tio que tem voto, ou se conforme com o terceiro lugar.
Arruda tem rabo preso. É só começar a crescer nas pesquisas e seu passado virá à tona… Acidente de trânsito… sobrinho de um doido varrido… herdeiro matrimonial de bilionário…
Impossível que isso se repita em época de democratização da comunicação com as redes sociais. Qualquer tentativa vai sair pela culatra