Inquérito da PF mostra ao TRE indícios de crimes comuns na PR-323

Dois delatores da Odebrecht disseram, em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, que pagaram milhões em caixa dois para a campanha de reeleição de Beto Richa (PSDB) ao governo do Paraná, em 2014, em troca de favorecimento à empreiteira em uma licitação.

Os depoimentos são sigilosos e foram obtidos com exclusividade pela RPC e pelo G1. Richa nega as acusações.

Na última segunda-feira, o desembargador do TRE Fernando Wowk Penteado tirou das mãos do juiz Sergio Moro a condução do inquérito e o trouxe para o âmbito da Justiça Eleitoral alegando, em princípio, que o caso, por envolver suposto crime de natureza eleitoral deveria ser objeto de julgamento do TRE e não da justiça comum, até prova em contrário. Os depoimentos dos delatores favorecem a compreensão de que o caso envolveu também corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e propina com origem nos fatos investigados pela Lava Jato.

Luis Antonio Bueno Junior e Luciano Ribeiro Pizzato foram ouvidos no inqúerito que investiga se o ex-governador cometeu crimes no processo de licitação para duplicação da PR-323, conhecida como a “Rodovia da Morte”, entre os municípios de Maringá e Umuarama.

Bueno Junior, ex-diretor da empreiteira, afirmou que, durante uma uma reunião no palácio do governo, em janeiro de 2014, pediu apoio ao ex-chefe de gabinete de Richa, Deonilson Roldo, também investigado no inquérito, para que empresas interessadas no projeto da duplicação da rodovia não apresentassem propostas na licitação.

Dias depois, de acordo com o delator, Roldo o procurou e disse que contava com o apoio da empreiteira para a campanha de reeleição do governador à época e que ajudaria a Odebrecht a vencer a concorrência.

Pedro Rache, ex-executivo da Contern, outra empresa com interesse na licitação, afirmou, também aos procuradores da Lava Jato, que foi chamado por Deonilson Roldo a uma reunião no Palácio Iguaçu, em fevereiro de 2014, e que ouviu que era para ele se afastar do certame, porque já havia firmado compromisso com a Odebrecht.

A Odebrecht venceu a licitação, cujo contrato custaria R$ 1,2 bilhão, mas a obra nunca saiu do papel.

O engenheiro Luciano Ribeiro Pizzato, também delator da Odebrecht, afirmou que, em julho de 2014, o empresário Jorge Atherino, amigo de Beto Richa, foi até o escritório da empresa e disse que estava cuidando da captação de recursos para a campanha do governador.

Atherino, segundo o delator, questionou se a Odebrecht iria honrar o compromisso firmado entre Luiz Bueno e Deonilson Roldo.

O delator afirmou que foi autorizado por Benedicto Junior, então chefe do setor de propinas da Odebrecht, a contribuir para a campanha de Beto com R$ 4 milhões em caixa dois. Segundo ele, o valor foi pago integralmente, mas o sistema de controle de propina da Odebrecht só registrou a saída de R$ 2,5 milhões.

Conforme os delatores, Richa era identificado pelo codinome “Piloto” nas planilhas de propina da Odebrecht, porque fazia corridas de Stock Car.

Ribeiro Pizzato disse que, além dos R$ 4 milhões, também cuidou da doação de mais R$ 435 mil a deputados da base de apoio do então governador. O delator afirmou que tem certeza que os valores foram entregues, porque confirmava com Atherino.

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