(por Ruth Bolognese) – A psicóloga e professora universitária, Valéria Ghisi, 39 anos, curitibana, contou sua história publicamente, na semana passada, e recebeu o apoio de milhares de pessoas Brasil afora. Comoveu pela coragem de mãe e pela fragilidade da mulher, como mostra na entrevista que concedeu ao portal UOL.
E preocupa pelo que revelou da incompreensão, da insensatez e o consequente despreparo de quase todos os agentes – das Varas de Família às delegacias de Proteção à Mulher – que trabalham diretamente com as questões envolvendo famílias, filhos e sentimentos no Brasil.
Mesmo numa delegacia da Mulher, por exemplo, tão festejada por governos e políticos, a mulher enfrenta uma burocracia que começa com a exigência de provas cabais ( e a violência, em muitos casos, é sutil, não deixa rastros) e termina ameaçando a vítima com processo por falso testemunho.
Mesmo com a Lei Maria da Penha, dados da ONU de 2016 apontam que 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil.
Juízes de Varas de Família são capazes de dar decisões unilaterais, de consequências gravíssimas, baseados apenas na versão de um advogado se, aparentemente, a tese for montada com competência jurídica.
E a história de Valéria Ghisi, filha da classe média curitibana, mostra essa realidade com clareza. Vítima de violência doméstica na França, ela retornou ao Brasil com a filha que teve com o companheiro francês. Com o consentimento legal do pai. Mas a partir daí, viu-se envolvida num emaranhado jurídico internacional, com provas inverídicas, e acabou sendo acusada pelo sequestro da própria filha.
Nesses quase 3 anos a Justiça brasileira, e a francesa, tomaram decisões absurdas, gravíssimas que estão sendo questionadas. Mas ao ritmo lento que todos conhecemos.
Valéria perdeu a guarda e agora, na França, está pagando o alto preço de ser mãe em finais de semana intercalados, sem poder trabalhar, a espera de novas decisões judiciais.
Por honestidade com o leitor, esclareço que a história de Valéria Ghisi me toca particular e profundamente. Mas estou censurada pela Justiça e qualquer referência nominal ao assunto reverte em multa milionária.
Por causa disso, nos últimos três anos abandonei minha profissão, me afastei dos amigos, perdi a paz e, muitas vezes, a serenidade.
Hoje sei que, em casos de foro pessoal, familiar, buscar o apoio da opinião pública, na verdade, é o último gesto de desespero. Porque é doloroso abrir a porta da alma e contar uma história que não nos pertence por completo. Que envolve outros personagens e, quase sempre, o objeto do nosso amor maior.
Mas quando a sensação de injustiça envenena a própria idoneidade, não tem outra saída. Conta-se a história para pedir socorro. E para servir de exemplo. E, mais ainda, para manter a esperança.
Valeria Ghisi não pede nada além de Justiça para que possa exercer, integralmente, o papel de mãe. A opinião pública brasileira tem o dever de apoia-la, como está fazendo, com milhares de assinaturas pedindo que a Justiça corrija as distorções do caso. E isso pode, sim, mudar o rumo dos fatos.
Mas é um gesto que, acima de tudo, conforta e protege quando a própria voz se torna fraca de tanto insistir para restabelecer a verdade.
Vamos todos abraçar Valéria Ghisi.