Pouco antes do Carnaval chegar, o povo vai ficar sabendo se o governador Ratinho Jr e o prefeito Rafael Greca decidiram ficar do mesmo lado da política. Eles estiveram separados durante o processo eleitoral do ano passado, quando o prefeito atuou como cabo eleitoral da candidata à reeleição ao governo Cida Borghetti, adversária de Ratinho na eleição.
Não é do seu jeito de fazer política, mas certamente Ratinho poderia ser tentado a agir da mesma maneira com que o ex-governador Beto Richa tratou o adversário Gustavo Fruet quando este assumiu a prefeitura em 2012, derrotando o candidato apoiado pelo Palácio Iguaçu, Luciano Ducci. Faltaram até mesmo pão e água nas relações entre estado e município.
A contenda entre os dois lados ficou explícita principalmente no transporte coletivo. Beto governador abriu os cofres do governo para Ducci prefeito e liberou subsídios para a manter a passagem do ônibus em valor que supostamente não tivesse potencial para causar muito prejuízo político-eleitoral para o afilhado. Não deu o resultado esperado, mas, em compensação, o sucessor Gustavo Fruet foi privado do subsídio e, para não subir muito a tarifa, desvencilhou-se da parte mais custosa – a integração com com as linhas metropolitanas.
Fruet foi castigado e não se reelegeu, perdendo para Greca, que já nos primeiros minutos da vitória ganhou apoio de Beto Richa, que restabeleceu o subsídio apesar de a passagem subir em seguida de R$ 3,70 para exorbitantes R$ 4,25. Um ano depois, verificou-se que este alto preço também não bastava. Cida Borghetti, já então governadora e candidata à reeleição, injetou R$ 70 milhões para subsidiar o transporte e evitar que seu cabo eleitoral sofresse novo desgaste que também a prejudicasse.
Greca pôde, assim, manter a tarifa do usuário em R$ 4,25, mas passou a pagar R$ 4,71 para as empresas concessionárias – uma diferença de 46 centavos toda vez que um passageiro aciona a catraca.
Agora, em 26 de fevereiro, data-base para o reajuste salarial de de motoristas e cobradores e do recálculo dos demais custos do sistema, a tarifa técnica deve se aproximar dos R$ 5,00 ou mais. Se o prefeito não conseguir convencer Ratinho Jr. a liberar mais subsídio, a conta só vai fechar se os passageiros forem obrigados a pagar no mínimo o valor igual ao da tarifa técnica, isto é, R$ 5,00. Greca pede ao governador R$ 90 milhões para que o aumento não chegue a tanto – fator importantíssimo para quem pensa em disputar a reeleição e, quem sabe, lançar-se candidato a governador em 2022.
Ratinho se mantém como uma esfinge em relação ao pedido do prefeito. Como tem seus próprios planos políticos, antagônicos aos de Greca, ao receber o pedido de subsídio respondeu com propostas vagas de colaboração com o município para modernizar o sistema. Nem de longe se comprometeu em colocar dinheiro estadual diretamente para evitar alta excessiva da passagem.
Como boa esfinge, ela só será decifrada uma semana antes do Carnaval. Para alegria ou tristeza de Rafael Greca.
O artigo omite outro personagem chave da estória: o Golem